São Paulo (AE) – A dona dos restaurantes Badebec e Giorno, em São Paulo, é decoradora. Nem ela sabe disso. Mas quem entra na cozinha do apartamento de Lourdes Bottura, em Moema, logo entende porquê. Lourdes criou uma cozinha bonita, prática. O diferencial se revela no toque pessoal, o colorido deste ambiente vai das panelas ao escorredor de pratos.
Só de olhar é possível deduzir que esta chef adora viajar, tem paixão por artesanato e não perde feira de antiguidades. De Belém do Pará, voltou com um ralador gigante, de quase meio metro. Pendurou ao lado de arranjos de alhos e pimentas, também adquiridos País afora. Na seqüência, surgem pequenas panelas francesas, compradas em Paris.
A parede oposta é recheada de "lembrancinhas" de viagens. De Trancoso (BA), trouxe o São Francisco talhado em madeira, de vestes pintadas em preto-e-branco. Para valorizar a peça, adquiriu na O Barão, em São Paulo, o suporte barroco.
Na feira da Benedito Calixto, na zona oeste de São Paulo, Lourdes garimpou peças como o liqüidificador da década de 60 e o vaso de porcelana que combina com as cores do santo. Outra aquisição: a fruteira do artista Guido Totoli. "O segredo é chegar cedo nessas feiras…", ensina.
Naturalmente, ela também faz a festa dentro de lojas. Da By Design veio um porta-biscoitos que – acreditem! – exala o aroma de maisena mesmo quando vazio (modelo Mary Biscuit). Também foi naquele endereço que descobriu o escorredor de pratos cor-de-abóbora. Da Suxxar, o instrumento de trabalho preferido: a frigideira de titânio, revestida de material cerâmico antiaderente e tampa de vidro.
Contudo, nada é mais importante que o conjunto de fogão e a coifa. Importado dos Estados Unidos, tem luz infravermelha que mantém os alimentos aquecidos até o término do preparo. Outro item sofisticado: a adega da Art des Caves para 90 garrafas, na sala de jantar anexa, onde também predomina a paixão de Lourdes pela cor. Os copos de tons fortes são portugueses, mas podem ser encontrados na Benedixt. A mesma loja vende a linha de pratos Macau.
A simplicidade desta mulher vem dos tempos em que morava em Rubinéia, na divisa de São Paulo com Mato Grosso. Lourdes sente prazer de lembrar a infância, quando a mãe empilhava um par de tijolos no chão para que ela pudesse alcançar a pia e ajudar na escolha do feijão. A comida? Era servida no bar do pai.
Como atividade profissional, a culinária apareceu em sua vida durante umas férias na praia. Na época, Lia Tulmann, a futura sócia, já trabalhava com gastronomia e um dia quis saber do zelador quem fazia aquela comida cheirosa que se sentia por todo o prédio. "Só pode ser a Lourdes, que é quem mais consome gás aqui…", ele disparou. E foi assim que as duas, pouco depois, abriram o Giorno (1997).
Com a ajuda da designer de interiores Neza Cesar, Lourdes Bottura ergueu a cozinha dos seus sonhos e montou a biblioteca de 300 livros especializados em culinária. A estante foi feita em laca e ficou embutida numa das paredes. Para adornar, Neza sugeriu um vaso do ateliê de Isabelle Tuchband. Nesse ambiente também fica a mesa de jantar para oito pessoas, além da porta de correr e, perto dela, a lousa que destaca o cardápio em dia de festa. "Adoro inventar nomes para os pratos", diz Lourdes.