VAMOS lá outra vez, leitor/eleitor. Sem nenhum medo. E nenhuma ilusão. Mas com muita esperança. Se você acha, como a Regina Duarte, a Beatriz Segal, minha tia Lily, o governador Jaime Lerner, o prefeito Cássio Taniguchi, o meu estimado amigo e colega Renatinho Andrade, Antônio Ermírio de Moraes, a Fiesp, a Febraban e os especuladores internacionais, que José Serra é melhor para o Brasil, crave o tucano na urna eletrônica. Agora, se você, como o restante dos brasileiros, está convencido de que é a hora de dar uma chance para Lula, não titubeie: digite o companheiro petista. Democracia é assim mesmo, ainda que, aqui, tenhamos apenas um arremedo de democracia.
Medo devemos ter – e temos, com certeza – da situação em que o novo presidente receberá o atual Brasil. “Com uma dívida difícil de pagar, uma pressão enorme sobre o câmbio, fuga de divisas, desemprego, queda da produção industrial.” Esta será a herança que Lula ou Serra receberão no início do próximo ano. E a análise nem nossa é, mas da imprensa argentina, um país com PhD em crises. O jornal Clarín chega a considerar o atual quadro brasileiro pior do que aquele entregue ao presidente De la Rúa, em 2000. Há evidente exagero na comparação portenha. Sinistrose de vizinho invejoso, talvez. Mas que o cenário não é dos mais gloriosos, não é mesmo.
A “atmosfera da nação”, medida semanalmente, com exatidão e bravura, por Alex Gutenberg neste O Estado do Paraná, é densa e está praticamente irrespirável: mais de 50 mil assassinatos são registrados por ano no Brasil; 23 milhões de brasileiros vivem abaixo da linha da miséria; o País é campeão mundial da desigualdade social e de renda, sendo que os 10% mais ricos detêm 46,7% da riqueza nacional, enquanto os 10% mais pobres se viram com menos de 1%; há 50 milhões de pessoas passando fome e vivendo como indigentes, e o nível de desemprego chegou a 9,3% em São Paulo, no mês de setembro. Enquanto isso, a inflação oficial desde 1994 já ultrapassou a casa dos 100%, as tarifas aumentaram de 40% a 600% acima da inflação (só os serviços telefônicos foram elevados 577% nos últimos oito anos), os preços administrados pelo Poder Público subiram além dos 250% e a coleta de impostos cresceu 42% (para os pobres mortais, porque para os banqueiros o aumento foi de apenas 11%). Os dados são oficiais, do IBGE e da ONU.
Em compensação, os salários… Bem, os salários, como se sabe, foram congelados em 1994 ou são liberados miseravelmente, em doses homeopáticas. E a privatização? Ah, na privatização do patrimônio público nacional, como bem anotou Frei Beto, “o governo federal jogou fora a água da bacia e a criança junto”.
Mesmo assim, é preciso manter a fé, eleitor. É essa a energia que ainda nos mantém em pé. Com Lula ou Serra, vamos lá. O espólio é feio, mas a escolha é nossa: continuamos com o quadro atual ou buscamos uma nova paisagem. Com coragem e confiança. E muita consciência.
Ninguém espera por milagres, porque milagre já foi havermos sobrevivido aos oito anos de neoliberalismo efeagaciano, mas é preciso começar, de uma vez por todas, a construir um País melhor, mais justo e mais humano para nossos filhos. Ou netos.
E chega de choradeira, que isso é coisa de fracassado.
Aliás, medo, medo mesmo, a gente deve ter é de viajar de avião. E do Bushinho, é claro.
Vamos lá, Brasil!