Coração de estudante

Há ainda neste mundo muitas coisas sem preço. Graças a Deus. E por constatar isso, ao tomar conhecimento da enxurrada de artigos que circularam pela imprensa em nível nacional, sobre as atitudes do Governador Roberto Requião, que me dei conta o quanto estamos distantes de nós mesmos. Ou seja, os textos publicados eram , no mínimo, hipócritas. A quantas anda nossa hipocrisia? Estranhamente tinham uma direção única e batiam na mesma tecla: pedágio, transgênicos, bingos, etc…

Não sou especialista em política. Aliás, não gosto mesmo. Não se espante o leitor com o simplismo de minha opinião. Faço o gênero ver e sentir, já que não tenho aquela imponente capacidade analítica dos estudiosos do assunto.

Desde o seu primeiro mandato como Governador tenho procurado acompanhar, através da imprensa, a vida política e as atitudes de Roberto Requião. Por todos estes anos elas sempre foram muito parecidas, ou seja, bem alinhavadas, bem acabadas. Não, não estou entrando no mérito de julgar se eram boas ou ruins, mas compreendi que, de certa forma, continham um quê de idealismo que fizeram com que eu percebesse algo que andava esquecido pelos cantos dos corredores percorridos por nossos políticos. Trata-se de uma tal coerência. Sim, a coerência: aquele “algo”, “sentimento”, “princípio” que trazemos dentro de nós mesmos, mas que deixamos esmorecer por algum motivo nebulosamente inconfessado. E parece que esta coerência tem sido uma pedra no sapato do Governador. Creiam, não se trata de piada, pois temos consciência de que ser coerente é uma qualidade indiscutível.

Mas onde está o problema? O que sei é que o Governador tem pelo menos tentado cumprir suas promessas de campanha, coisa que os políticos, de um modo geral, esquecem. Perdão! Não esquecem, eles são acometidos pela síndrome irreversível de amnésia purulenta. Destes, portanto, salva-se e distingue-se o Sr. Governador. Lembrando que seus ditos “rompantes” são, nada mais nada menos que uma forma de tentar exorcizar todos os tipos de negatividade. Xô urubús!

Assim, no meio deste vórtice de contradições, vamos vivendo. Notícias dali. Surtos de dengue. Chuva em Matinhos. Pés de moleque. Churros. Melancia gelada. Passeio na Ilha do Mel. Mas não há como ignorar que o Governador do Estado do Paraná escolheu inimigos assaz sórdidos e pegajosos. No entanto, devemos acreditar que podem ser vencidos. Apesar de que, cá comigo, dá um frio na barriga de tanto desespero e as vezes até acho que Roberto Requião deveria deixar tudo isso de lado e fazer de conta que o mundo rola como uma bola, redondos que são… Faz bem para o coração e estômago. Mas onde ficam os nossos sonhos?

Ah! Este é um outro capítulo, embora imprescindível. Afinal é necessário sonhar. Apesar de estar acompanhando a sangrenta batalha entre um Governador de Estado e um tipo de monstro-dragão transgênico-apocalíptico com um incontável número de tentáculos em forma de cancela e cabeças de cujos olhos saltam bolinhas brancas numeradas daquele sistema antigo de bingos que existiam nas quermesses e que tem, acreditem, o poder de desaparecer, na hora do golpe fatal, não podemos perder o fôlego. A fibra. Coragem. Jamais entregar o sonho.

Não é de meu feitio estar adulando as pessoas pelo cargo que ocupam, desprezo e abomino esta prática, no entanto, tenho que reconhecer que o que mais admiro em relação a postura do Governador é a sua sempre crescente disposição para lutar a favor de temas que pareciam perdidos em algum sótão escuro de nossa memória. É oportuno salientar também a clareza que tem sobre sua ideologia e que sua identidade política não se diluiu na correnteza lamacenta de inumeráveis siglas partidárias.

Ocorre que as vezes parece solitário, uma espécie de Dom Quixote de nossos tempos, cavalgando por caminhos íngremes e pedregosos. Assim da mesma forma como as vezes nos sentimos. Mas, como o herói de Cervantes, surpreende ao superar obstáculos quase intransponíveis e insiste em simplesmente acreditar. Não me levem a mal por esta análise um tanto quanto subjetiva, mas me dei conta que o que falta a todos nós é exatamente o que o Governador tem de sobra, um coração de estudante.

helenarias@uel.br. A autora é funcionária pública, graduada em Jornalismo e mestre em Letras pela UEL.

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