Se depender do diretor da Haus der Kulturen der Welt (Casa das Culturas do Mundo) de Berlim, Hans-Georg Knopp, o Ano do Brasil na Alemanha, em 2006, não será marcado pela histórica redução do País ao estereótipo do paraíso carnavalesco. Antes, Knopp espera que até agosto ele e o ministro da Cultura Gilberto Gil tenham definido uma agenda que combata justamente esse reducionismo. Desde que foi fundada, em 1989, a Haus der Kulturen, espécie de embaixada cultural da Alemanha, tem sido a sede das chamadas "culturas periféricas" do mundo, o que inclui boa parte da Ásia e da África e praticamente toda a América Latina. Knopp, que em agosto assume a direção do Instituto Goethe em Munique, recebeu a AE para uma entrevista exclusiva sobre o Ano do Brasil na Alemanha e explicou como ele pretende incrementar a relação cultural entre os dois países.

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"Temos por princípio não criar projetos unilaterais com idéias preconcebidas e, portanto, não poderia ser diferente com o Ano do Brasil na Alemanha", diz, adiantando que o próprio ministro Gilberto Gil escolheu o título Copa da Cultura para definir o conjunto de eventos que vão ocupar vários espaços em cidades alemãs. O ministro da Cultura, naturalmente, pensou no Brasil como o país do futebol e a programação vai girar em torno do seu esporte mais popular. Knopp revelou que os dois países assinaram uma carta de intenções para a realização de um projeto interdisciplinar, que inclui cinema, teatro, dança, música e performance. O montante aplicado não foi divulgado, mas um único projeto apresentado este mês na Haus der Kulturen der Welt, o festival de dança In Transit, custou aos cofres públicos alemães 700 mil euros.

A Alemanha tem especial interesse no Ano do Brasil. Sabe que países asiáticos como a China, cuja performance econômica no Brasil tem sido incrementada no governo Lula, deixa os parceiros europeus na rotunda, ocupando a frente do palco. Knopp quer que as relações bilaterais Brasil-Alemanha voltem a ser o que eram nos anos 70 e 80 do século passado. "Devo reconhecer que a presença da cultura alemã não é tão expressiva como naquela época, porque os subsídios governamentais para a cultura diminuíram, mas temos ainda um ótimo diálogo, principalmente com Gil, como demonstrou o projeto Atlântico Negro, realizado aqui no ano passado."

Nesse projeto, que tratou de culturas de origem africana, foram revelados nomes como os do coreógrafo Koffi Kôkô, de Benin e do bailarino sul-africano Sarat Maharaj, ambos curadores do festival In Transit, que terminou no dia 18, em Berlim. "Fazemos questão que os curadores sejam dos países convidados, porque não queremos impor um conceito ou nomes", explica Knopp. "Não selecionamos projetos culturais por catálogos ou mandamos exposições que nós achamos importantes para outros países, porque acreditamos justamente no diálogo transcultural."

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Esse é um recado com destino certo. Se a Copa da Cultura tiver vencedores, parte do mérito terá sido do ministro Gilberto Gil. Afinal, foi uma escolha brasileira associar cultura e futebol. Se o Brasil perder, ninguém poderá culpar a Haus der Kulturen.