Convergências

O bate-boca entre a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o ministro da Fazenda, Antônio Palocci Filho, levou o presidente Lula a ter de explicar à nação uma estranha política que pretende adotar nesses casos. Quando há divergências entre os homens do governo, não importa que as discutam publicamente. Se não chegarem a um acordo, serão convocados para o gabinete presidencial e nele terão que se entender. Ou entender o que o presidente Lula quer e quem apóia. Os desgastes que esses debates públicos causam aos contendores e ao governo não preocupam o presidente.

Sobre o assunto também foi revelado que a posição da ministra Dilma contra a política econômica de Palocci é endossada por outros ministros. Alguns até podem ser nominados com segurança: o da Agricultura, o da Educação, o da Saúde. Todos queixam-se da falta de verbas a que suas pastas foram condenadas em razão do duro ajuste fiscal praticado por Palocci. Esse ajuste fiscal, no caso do Ministério da Agricultura, fez com que fossem sonegadas as verbas para a campanha de vacinação do gado e o resultado foi a eclosão de focos de febre aftosa no rebanho. Como conseqüência imediata, mais de três dezenas de países fecharam as portas às importações de carne e derivados brasileiros. Os efeitos serão sentidos na balança comercial. Aí, o aperto fiscal, que é voluntário e visa gerar superávit para pagamento da dívida externa e interna, vai ser inescapável. Haverá menor arrecadação e não há mais espaço para redução de despesas, a menos que o governo decida cortar na carne os gastos de custeio.

O ministro Palocci, falando na Comissão de Economia do Senado, deixou claro que em sua opinião esses gastos de custeio têm de ser reduzidos, mas que é uma tarefa para muitos e muitos anos. Que não bastam a redução de cargos criados aos milhares pelo governo Lula e deixar em terra o avião da Presidência, que custou milhões e não pára de voar. Verdade, mas bem que menor gastança nesses itens e em outros que significam desperdícios teria um papel didático. Ensinaria o governo que é bom gastar menos na manutenção da máquina pública. Quanto à fonte de sempre, a dos impostos, parece que o Brasil já chegou ao máximo. Somos campeões mundiais de carga tributária e a sociedade não aceita novos tributos ou elevação dos existentes.

Há, portanto, convergências nessas divergências. Vários ministros convergem para o ponto de vista de Dilma Rousseff, de que é preciso flexibilizar um pouco o ajuste fiscal, pois não são poucos os programas essenciais de diversos ministérios que estão parados por falta de recursos.

Lula tem prestigiado a ministra e, com menos visibilidade, passado a mão na cabeça do ministro da Fazenda. Dilma diz que não recua de sua posição enquanto Palocci afirmou que é ministro para gerir a política econômica de aperto. Se não, sai do ministério. A posição de árbitro de Lula não é nada cômoda e, a prosseguirem os debates públicos entre os seus ministros, pode-se prever, desde logo, que algum ou alguns serão fritados. E fritura em ano eleitoral, com Lula candidato, pode significar a queda do ministro da Fazenda para aparecer dinheiro destinado a programas que dêem votos.

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