Controle do Legislativo

Triste o destino do PT e triste o destino do presidente Lula, se ficar no seu governo o esqueleto dessa CPI não criada. A profética advertência é do senador Pedro Simon, para quem o governo erra ao insistir no uso de todas as artimanhas possíveis para evitar uma ampla investigação sobre como e por que um cidadão chamado Waldomiro Diniz ocupava o importante cargo de assessor parlamentar – o braço-direito, a perna-direita, o coração e os pulmões do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu.

Mais de oitenta por cento dos brasileiros e brasileiras querem a CPI. Acham que a investigação em curso na Polícia Federal e no Ministério Público é insuficiente. Não acreditam que o Waldogate se restrinja a Waldomiro, já que José Dirceu o conhecia de muito tempo, com ele morou na mesma casa e deu-lhe total carta branca para, inclusive, filtrar sua própria agenda pessoal. Imaginam quanto dinheiro foi desviado da jogatina para a campanha eleitoral da esperança (esperança lá, esperança cá). Ao tentar impedir por todos os meios que a investigação seja ampla, geral e irrestrita, o governo de Lula deixa aberto um imenso flanco para as pessoas continuarem a desconfiar com mais convicção de que esse enorme monturo é ainda maior do que aquele que se imagina.

A decisão anunciada pelo presidente do Senado, José Sarney, de não instalar a CPI, depois de tudo combinado com as lideranças dos partidos situacionistas, mais o próprio interessado José Dirceu, é um ignóbil ato de quem tem, também, o rabo preso nos ralos e frestas da corrupção. Nada acrescenta de bom ao currículo do ex-presidente da República que se notabilizou por um enorme estelionato eleitoral, ditou planos econômicos desastrados e terminou seus dias desmoralizado depois de ter plantado fiscais nas filas do leite, da carne e das máquinas de remarcação de preços dos supermercados. Mutatis mutandis, repete o único gesto que sabe fazer com maestria, isto é, dissimular interesses de grupos naqueles que seriam interesses nacionais, sem dar a mínima pelota aos interesses verdadeiramente gerais.

A se confirmar a notícia do “enterro das CPIs” – a do bingo e a do Waldomiro, ou qualquer outra que venha a surgir – a última bravata engendrada na base aliada não apenas deslustra o governo de Lula, já ferido por essa burrice sesquipedal de evitar a investigação com medo da própria sombra, mas atinge mortalmente também o Congresso Nacional, onde tudo parece mover-se à base das armas, argumentos e moedas usadas pelo próprio Waldomiro, aquele homem de fala mansa, designado a entrar em qualquer negociação em nome do governo e dela sair sempre bem, com o trunfo do entendimento na mão, custasse o que custasse.

Aos quase quarenta senadores que assinaram o pedido, entendendo ser ele necessário, ainda restará o argumento de que fizeram um pequeno pedaço da lição que lhes competia. E os demais, os líderes que se negam a indicar seus representantes e a própria mesa diretora que se baseia nesse estratagema de faz-de-conta? Que moral restará ao Senado e ao Congresso, por extensão, se despreza a evidência e se afunda na sórdida manobra de tirar proveito de situações de crise, ampliando – como se noticia sem contestação – exigências de mandos, de cargos, e mesmo a administração de grandes empresas ligadas ao Estado, como se fossem feudos dos idos tempos em que ao rei tudo pertencia de forma absoluta?

Alguns partidos anunciam que recorrerão ao Judiciário para discutir a torpe manobra capitaneada ainda uma vez por Sarney, o José em defesa do Zé. Seguindo a cartilha conhecida, lá poderão encontrar algum tipo de acolhida desde que prometam desistir do argumento pelo controle externo do Poder Judiciário. Afinal, na república dos favorecidos, favor se paga com favor, pois é dando que se recebe. Sem medo de ser feliz, perdão!, de esqueletos. Só por argumentar, que armas restará ao cidadão da planície, este que elegeu um governo apostando na mudança de tudo o que aí está? Organizar o controle externo do Legislativo?

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