Controlador de Brasília admite erros no acidente da Gol

Depoimentos dados por 13 operadores à Polícia Federal reforçaram a versão de que erros do controle de tráfego aéreo contribuíram para o choque ocorrido em 29 de setembro entre o jato Legacy e o Boeing da Gol, acidente que provocou a morte de 154 pessoas. O controlador Lucivando Tibúrcio, por exemplo, disse que, ao assumir em Brasília a mesa que orientava o vôo do Legacy, recebeu do colega a quem substituía na troca de turno, Jomarcelo Fernandes dos Santos, a informação incorreta de que o jato passara pela capital federal a 36 mil pés. Ele admitiu ainda que após ter tentado em vão contato por rádio, não buscou estabelecer pontes de comunicação com o Legacy usando outros aviões que sobrevoavam áreas próximas.

Na verdade, o jato sobrevoou o Distrito Federal a 37 mil pés e, no período em que esteve sob monitoramento do centro de controle de Brasília (Cindacta-1), não recebeu nenhum aviso de que deveria baixar de altitude na rota para Manaus. Assim, permaneceu na mesma altitude do Boeing até o choque, por volta das 17 horas.

Entre os fatores que levaram ao acidente, a PF tende fortemente a apontar erros cometidos pelos controladores de São José dos Campos – de onde o Legacy decolou, com autorização para voar a 37 mil pés até Manaus – e Brasília. Também houve provavelmente equívocos dos pilotos americanos do Legacy, que ainda serão ouvidos nos próximos dias e podem ser indiciados por homicídio culposo (sem intenção). A PF detectou ainda a existência de vulnerabilidades no sistema de controle de vôo, entre elas um possível ‘ponto cego’ na área da Serra do Cachimbo, divisa entre Pará e Mato Grosso, onde aconteceu o acidente.

Com base nos depoimentos e nos dados das caixas-pretas dos aviões, a PF comprovou que as comunicações entre o Legacy e as duas torres ficaram comprometidas desde o início do vôo. Constatou ainda a ausência de um radar capaz de fornecer informações precisas na área do acidente. Ficou claro para a polícia que não houve o acionamento do transponder do Legacy no código 7600, que alertaria sobre falha de comunicação.

No depoimento, Tibúrcio informou que, depois de assumir o monitoramento do Legacy, às 16h15, trabalhou sem assistente, o que não é recomendável, por 10 a 15 minutos. Disse que passou a suspeitar do funcionamento do transponder do Legacy pela ausência de dados confiáveis sobre a altitude do jato, representada na tela do radar por uma pequena cruz circundada por um círculo.

Certo de que o jato entrava na zona que chamou de ‘cega, surda e muda’ perto da Serra do Cachimbo, Tibúrcio disse que passou a fazer tentativas desesperadas de contato com os pilotos americanos. Diz a transcrição do depoimento: "Diante da suspeita (Tibúrcio) procurou efetivar contato com a aeronave para questioná-la acerca da condição operacional do seu transponder; que não obteve resposta nas tentativas de comunicação com a aeronave; que estima haver feito uma quantidade aproximada de cinco a oito tentativas de comunicação com a aeronave.

O controlador decidiu, então, esperar por um possível acionamento do código 7600, como manda a norma internacional. A partir daí, alegou que confiou na informação de Santos e só fez uma última chamada, ‘às cegas’, quando a aeronave se aproximava do marco Nabol, ponto de referência da aviação logo depois de outro marco, o Teres – onde, pelo plano de vôo, o Legacy deveria ter subido para 38 mil pés. Nesse instante, disse, não havia mais nenhuma indicação do Legacy no radar.

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