A contradição é difícil de explicar: o Brasil é um dos maiores exportadores mundiais de produtos agrícolas, mas ao mesmo tempo tem lugar assegurado no bloco vanguardeiro dos importadores de trigo. A produção brasileira do referido cereal, matéria-prima básica para o fabrico de massas, pães e biscoitos, é suficiente para atender apenas a metade da demanda estimada para esse ano.
O maior fornecedor de trigo para o Brasil é a Argentina, que terá dificuldades para aumentar – em caráter emergencial – os embarques, em face de compromissos assumidos com outros mercados. Tendo em vista que a demanda interna exigirá a compra do alimento de outros fornecedores, o complicador está na elevação das cotações do produto no mercado mundial.
Diante disso, será inevitável o aumento dos preços internos dos produtos que levam o trigo em sua composição, afetando diretamente a economia popular. Calculando o custo médio de US$ 420 por tonelada do cereal, o Brasil vai gastar US$ 2,6 bilhões na importação de até 7,2 milhões de toneladas, incluindo as farinhas e pré-misturas, a fim de garantir o abastecimento interno ao longo de 2008.
Nas duas últimas safras problemas climáticos afetaram não somente a produção brasileira de trigo, mas também as colheitas de produtores tradicionais como a Austrália, diminuindo os estoques estratégicos do alimento.
É muito cedo para arriscar quaisquer conjecturas sobre o comportamento esperado da próxima safra de trigo (4,5 milhões de toneladas), para um prognóstico inicial de importação de 6 milhões de toneladas na corrente temporada.
O cultivo está concentrado na região Sul, de modo especial no Paraná, cuja produção atingiu seus melhores índices a partir de meados da década de 70, com a importação de variedades mexicanas de alta produtividade.
Como se sabe, o trigo é uma cultura típica de inverno e, destarte, altamente suscetível às inesperadas adversidades de ordem climatológica.
Esse fator, aliado à falta de incentivos oficiais ao plantio fez do Brasil um dos maiores importadores do grão.