Contra a guerra

O Brasil é um país pacífico. Já esteve envolvido em guerras, inclusive na II Guerra Mundial, mas fatos justificaram nossa presença no conflito. Ataques contra navios mercantes brasileiros, com perdas materiais e de vidas nos empurraram para a luta. Não podemos ignorar, entretanto, a influência na decisão de também guerrear que teve o permanente alinhamento brasileiro com os Estados Unidos, partícipes da II Guerra depois do ataque japonês a Pearl Harbour.

Esse alinhamento sempre se traduziu por interesses comuns e, não raro, submissão aos interesses norte-americanos, aceitando um colonialismo camuflado que se estendeu do campo econômico até o cultural.

Hoje as coisas são diferentes. O Brasil atual, em especial sob Fernando Henrique Cardoso e porque hoje preside os EUA o prepotente e temerário George W. Bush, não mais pode ser considerado um país alinhado com a grande nação do norte, embora remanesçam interesses comuns e, oxalá, consigamos equacioná-los da forma mais justa possível.

Divergimos dos EUA por seu protecionismo a produtos que exportamos, criando problemas para setores como a nossa agricultura, produção de suco de laranja e exportação de aço. Mas fomos adiante, no final da semana passada, no Conselho de Segurança da ONU, quando o representante brasileiro manifestou nossa contrariedade com a política belicosa de Bush em relação ao Iraque.

Não morremos de amores pelo Iraque de Saddam Hussein. Sabemos tratar-se de uma ditadura de mais de duas décadas. Um país belicoso, onde a oposição e o movimento dos curdos são selvagemente esmagados. Um país capaz de invadir um vizinho, também árabe, para tentar tomar-lhe o petróleo, do que resultou um ataque de forças ocidentais chancelado pela ONU. Mas tudo isto não justifica que o governo Bush, secundado pelo da Grã-Bretanha e com a oposição de outros importantes países ocidentais, como a França, Alemanha e Rússia, se arvore ao direito de atacar o Iraque com o propósito ou pretexto de eliminar supostas fábricas e depósitos de armamentos de eliminação em massa e o propósito confesso de derrubar Saddam Hussein, para que em seu lugar seja colocado outro governante. A eliminação de depósitos e fábricas de armamentos é uma questão da ONU. Questão que foi e volta a ser tratada pela organização internacional, a cujas resoluções curva-se o Brasil e devem curvar-se também os Estados Unidos. Já a substituição ou não de Saddam no poder é um assunto de política interna dos iraquianos. A eles é que cabe decidir quem deve ser o seu presidente e que regime devem adotar. Somos e sempre fomos pela livre determinação dos povos.

Geraldo da Fonseca, embaixador brasileiro na ONU, declarou naquela organização que “o uso da força em nível internacional é apenas admissível, uma vez esgotadas as alternativas diplomáticas”. Reafirmou que “o uso da força deve ser exercido de acordo com a Carta das Nações Unidas e das resoluções do Conselho de Segurança”, ao tempo em que insistiu que o Iraque deve cumprir todas as resoluções do Conselho de Segurança. Exatamente. O Iraque, o Brasil, qualquer país, inclusive os Estados Unidos, uma vez associados à ONU, devem cumprir suas resoluções. Não estamos alinhados com a prepotência belicosa de Bush.

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