São Paulo (AE) – Czar da economia durante o regime militar, o deputado Delfim Netto (SP) entrou hoje no PMDB, partido da resistência à ditadura, depois de mais de 40 anos de militância na Arena, PDS, PPR, PPB e, por último, no PP, mas permanece fiel aos velhos amigos. "Continuo a confiar no Paulo Maluf (ex-prefeito de São Paulo). É meu amigo e gosto dele", disse Delfim Netto, ao comentar a prisão dele, logo depois de ter a ficha de filiação ao PMDB abonada pelo ex-governador Orestes Quércia, na sede do partido na capital paulista.
Poderoso ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento nos governos dos presidentes Arthur da Costa e Silva, Emílio Garrastazu Médici e João Baptista de Oliveira Figueiredo, o deputado de São Paulo, ao entrar na legenda, foi saudado por Quércia, alvo de uma Comissão Geral de Investigação (CGI) durante o governo do presidente Ernesto Geisel, por um ex-militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), o deputado Marcelo Barbieri (PMDB-SP), e por um cassado pela ditadura militar, o ex-deputado Almino Affonso, ministro do Trabalho do governo João Goulart, derrubado pelos militares em 1964.
"Tivemos divergências, mas nunca fomos inimigos. O mundo mudou, e nós mudamos. A minha entrada do PMDB confirma a idéia de que nós evoluímos, dramaticamente, do ponto de vista político", disse Delfim Netto, ao defender a tese de que o Brasil, comparado a outros grandes países emergentes, como China Índia e Rússia, enfrentou, com maior êxito e menores custos, a travessia de um regime autoritário para um democrático, mas passou a patinar na economia.
Para superar a fase dos baixos índices de crescimento econômico, ele disse considerar a sigla a agremiação ideal porque é "uma confederação" e permite a convivência de "múltiplas visões", sem sectarismos. "Estou absolutamente convencido de que o País precisa de poucos e fortes partidos, com raízes no eleitorado e capacidade de mobilização e apresentação de projetos de governo", disse.
Delfim Netto a condução da economia pela gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "O governo federal, do ponto de vista da política monetária, não tem ido bem. Nunca estivemos numa condição tão boa como estamos hoje para iniciar um programa, realmente, de desenvolvimento. Mas, para isso, é preciso não apenas imaginação, mas também coragem", afirmou. O deputado evitou, porém, fazer comentários sobre o programa econômico, com a proposta de centralização do câmbio, preparado pelo economista Carlos Lessa, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para o secretário de Governo e Coordenação do Estado do Rio, Anthony Garotinho.
Apesar das ressalvas à política econômica, Delfim Netto disse que continuará a apoiar a administração Lula no Congresso, aproveitando-se do fato de que o PMDB é dividido em relação à participação em ministérios. "Enquanto o partido não tiver uma opinião única, vou continuar fazendo o que eu faço – tentando ajudar o governo, como, aliás, faz metade do PMDB", afirmou o deputado, que disse pretender disputar um sexto mandato na Câmara em 2006.
