O clima de Natal já está presente com as esperanças de um mundo melhor. Todos os anos o ideal do Amor é estimulado. É o período das arrecadações e doações para o Natal dos pobres do qual a sociedade participa. Quando se encerrar o período natalino, o espírito fraterno também costuma desaparecer. Continuará a falta de sensibilidade para com as questões sociais. O governo Federal, com certeza, prosseguirá desgovernando, como fez em 2003. O presidente, ex-metalúrgico, de família pobre e que conheceu a miséria de perto, poderia se deixar influenciar pela mensagem da pessoa de Cristo, que nasceu simples e continuou simples até a morte. Esta iniciativa brota do interior de cada um, mas Lula parece preocupado em viajar (e muito). As questões sociais não estão inclusas na política neoliberal sob a qual se curva o petista, seguidor do paradigma de Fernando Henrique Cardoso. Aliás, os dois estão trocando gentilezas e partilhando safadezas.
Não vamos aprofundar essas contradições, mas rememorar uma mulher que viveu intensamente a Lei do Amor. Refiro-me à Rosa Frederica Johnson (1930-1979), natural de Almirante Tamandaré. Filha do casal Emílio e Luísa Johnson, casou-se com Sebastião Mota Correa e teve quatro filhos: Valter, Luiz César, Cícero e Marcelo.
Comenta-se que Rosa foi uma mulher muito inteligente. Elly Enny Furquim Stocchero (esposa do amigo Harley Clóvis Stocchero) diz a seu respeito: Quando muito jovem, trabalhou em casa (serviços domésticos) de dona Hercília e seu Bôrtolo Stocchero, meus sogros. “Dona Hercília, quando se referia à Rosa, era só para elogiá-la como pessoa muito querida que tanto admirava, dizendo sempre que, pela inteligência que possuía, precisava estudar”. E estudou Magistério e Pedagogia na Faculdade Tuiuti, hoje Universidade Tuiuti do Paraná, em Curitiba. Trabalhou em duas escolas do município na função de professora do ensino primário. Foi nomeada para a escola isolada da Cachoeira (na época era assim chamada por ser distante) e eleita primeira diretora após a ampliação deste estabelecimento, quando implantou a 5a série, fruto do seu trabalho. “Foi uma professora idealista, vocacionada para o ensino. Na época em que lecionava, não havia, como hoje, linhas eficientes e regulares de transporte, que facilitassem o desempenho profissional, circunstância que jamais impediu o seu trabalho, pois ela ia a pé às escolas em que lecionava, vencendo distâncias sem esmorecimentos”, concluiu Elly.
Além de ter sido professora abnegada, foi a pioneira no trabalho voluntário de Assistência Social. Em conversa com o filho Valter, constatei que ela tinha vocação para ser enfermeira e por esta razão realizou trabalhos de apoio aos enfermos, percorrendo vários quilômetros a pé. Estas qualidades foram reconhecidas aos 7 de fevereiro de 1983, quando um estabelecimento de ensino ganhou seu nome: a Escola Estadual Professora Rosa Frederica Johnson-Ensino Fundamental, situada à rua João Antunes de Lara, 47, Almirante Tamandaré-PR. A este respeito, a atual diretora Marli Cristine Milleky menciona que a iniciativa partiu de Oslira Teresinha S. Iurk, diretora da Unidade Cachoeira. Além desta escola, há uma rua em Almirante Tamandaré que também recebeu seu nome.
Estudantes pesquisam a vida de Rosa Frederica
Os alunos da 5.º série da escola citada desenvolveram pesquisa na disciplina de História Regional sobre a Professora Rosa. Eles relataram dados de sua vida: “(…) E um dia ela ficou grávida e vinha a pé dar aula”. (Luis Ricardo David da Silva). Valter confirmou que ela só deixou de trabalhar quando esteve extremamente doente (faleceu de câncer de medula óssea em Curitiba). Era “uma mulher muito dedicada aos seus negócios, andava 14 quilômetros para lecionar e ajudava também na aplicação de injeções”. (Vandressa de Souza Geraldo). Para o trabalho voluntário, a Professora Rosa percorria, em média, 10 quilômetros. Fazia remédios caseiros, que aprendeu com os pais. Foi terapeuta prática, pois aconselhava pessoas com os mais variados problemas e escrevia cartas para analfabetos. “Ela não era igual a estes professores de hoje em dia que faltam até quando sentem dor na unha”. (Alan Felipe Kleves Gonçalves).
O ideal vivido pela Professora Rosa não se exerceu durante um determinado momento, como no Natal. Foi constante, incansável até à morte. Despojada, amou profundamente a vida e a comunidade de origem. No dizer de Milleky, “nunca esperou recompensas nem reconhecimentos, daí a lembrança dela ocupar um lugar de destaque em nossas vidas e corações”.
Jorge Antonio de Queiroz e Silva
é pesquisador, historiador e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná (queirozhistoria@terra.com.br)