Rastreamento sigiloso dos técnicos da CPI dos Correios, ao qual a AGÊNCIA ESTADO teve acesso, revela que as contas do publicitário Duda Mendonça receberam R$ 701,3 milhões nos últimos cinco anos. A maior parte dessa soma foi injetada nas contas do ex-marqueteiro do Palácio do Planalto a partir de 2003 quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a presidência da República.
Os peritos da comissão ainda estão destrinchando as transações bancárias e o total recebido pelo publicitário durante o governo Lula, mas já descobriram que um número "considerável" de depositantes não estão identificados.
Por não revelarem a origem do dinheiro, as operações sem o nome do depositante são consideradas suspeitas pela CPI. Agora a comissão vai determinar ao Bankboston, responsável pelas contas investigadas, que detalhe essas transações.
O caminho do dinheiro investigado pela comissão concentra-se em quatro contas bancárias ligadas ao marqueteiro. As duas primeiras são suas contas pessoais, de números 70171307 e 70196506, que receberam R$ 24,9 milhões nos últimos cinco anos.
A terceira conta, de número 24733105, pertence a uma das empresas de marketing de Duda, a CEP (Comunicação e Estratégia Política Ltda.), que foi beneficiária de depósitos e transferências calculados em R$ 30,3 milhões – também desde o ano 2000. A CEP foi a empresa que prestou serviços na campanha de Lula e ao PT nas eleições de 2002.
A quarta e mais rentável conta, de número 9070504, recebeu R$ 646,1 milhões nos últimos cinco anos. A empresa titular dessa conta é a Duda Mendonça & Associados Propaganda Ltda. Era por meio dela que o marqueteiro recebia os repasses da conta com a presidência da República e ainda recebe os pagamentos da Petrobras – o contrato de Duda com a estatal foi renovado.
Pela movimentação expressiva e pela presença de operações suspeitas, a conta da Duda Mendonça & Associados é prioridade dos peritos nas análises dos extratos bancários do publicitário. O levantamento da CPI mostrou transações "suspeitas" no valor de R$ 377 milhões nessa conta.
São operações registradas apenas como "payments", que não têm identificação do beneficiário ou do depositante. Segundo carta enviada pelo marqueteiro à CPI, tratam-se de pagamentos a fornecedores. A comissão requisitou ao Bankboston os nomes dos envolvidos nas operações.
Segundo os peritos, essa conta também registra diversas transações suspeitas e que não têm correlação com as operações de "payments". No dia 17 de agosto do ano passado, por exemplo, os extratos bancários indicam uma transferência de R$ 440 mil para a Duda Mendonça & Associados, na qual não consta o nome do depositante. No dia 2 de abril de 2004, outro exemplo: um cheque no valor de R$ 132.270,35 depositado sem a identificação do depositante.
O publicitário voltou a ocupar as atenções da CPI depois que a AGÊNCIA ESTADO revelou as milionárias transações suspeitas e a revista "Veja" deste fim-de-semana mostrou a existência de uma nova conta do marqueteiro no exterior.
A reportagem procurou o publicitário, mas não houve retorno. Na carta enviada à CPI, no entanto, ele se defendeu e afirmou não haver nada de "suspeito" em suas contas bancárias. "Deve-se lembrar que a Duda Mendonça & Associados Propaganda Ltda. possui, além de clientes ligados à administração pública, grandes anunciantes da iniciativa privada, resultando, por força da dinâmica exposta acima, na movimentação de volumes financeiros relativamente expressivos", argumentou Duda.