Os consumidores vão entrar em 2006 com o pé no freio. A Sondagem das Expectativas do Consumidor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgada ontem, mostra que a cautela provocada pela crise política e os altos juros, que afastaram os consumidores das compras nos últimos meses, permaneceu em dezembro.
Segundo Aloisio Campelo, responsável pela sondagem, o pequeno crescimento de 0,6% no Índice de Confiança do Consumidor em dezembro (103,6) em relação a novembro (103,0) é na prática uma estabilidade. "Não dá para afirmar que houve uma melhoria, 0 6 é uma oscilação muito pequena, o índice está praticamente estável, não há como confirmar que a confiança está melhorando", disse.
Para Campelo, em dezembro era de se esperar que o índice avançasse mais por questões sazonais, já que este é tradicionalmente o mês de maior otimismo no ano. Segundo ele, o consumidor permanece cauteloso por causa das incertezas em conseqüência da crise política e da política monetária.
Ele explica que a queda nos juros ainda não teve reflexos na economia real e o consumidor ainda não consegue prever quando o crescimento da economia vai se acelerar novamente e em qual magnitude.
Campelo explica que a sondagem mostra a propensão do consumidor às compras e, com os dados de dezembro, "eu diria que a confiança do consumidor não é um indutor de crescimento neste final do ano".
De acordo com os dados da sondagem relativos às perspectivas para os próximos seis meses, houve "um avanço dos pessimistas" nas expectativas futuras para a economia local (cidades onde residem) dos consumidores. O porcentual dos que acreditam que a situação vai melhorar recuou de 23,9% dos entrevistados em novembro para 23,5% em dezembro, enquanto os que avaliam que vai piorar subiu de 17,4% para 19,6%.
"Isso tem a ver com a incerteza, não é certo para o consumidor que a economia vá entrar em rota de aceleração nos próximos meses", disse Campelo. Em conseqüência, caiu a expectativa de compras (de bens duráveis) para os próximos seis meses. Enquanto em novembro o porcentual dos que achavam que fariam mais compras era de 23,1%, em dezembro caiu para 21,9%. Por outro lado, o porcentual dos que avaliam que vão comprar menos subiu de 42,8% para 44,8%.
No caso dos que vão comprar automóveis, o porcentual dos que planejam adquirir um veículo subiu um pouco em dezembro, para 12,9% ante 12,7% em novembro – o que Campelo considera uma estabilidade – mas permaneceu inferior a outubro (13,2%).
Presente
Mesmo com a estabilidade na cautela e a persistência no pessimismo diagnosticada por Campelo, a pesquisa mostrou pequenas evoluções na avaliação dos consumidores da situação presente, tanto na situação financeira da família quanto na economia local (as regiões pesquisadas são Recife, Porto Alegre, Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo).
Em dezembro, os consumidores confirmaram o comportamento sazonal do mês e mostraram mais otimismo em relação a situação econômica da própria família, ainda que permaneça a desconfiança em relação à economia em geral. A sondagem mostra que, no que diz respeito à situação financeira atual da família, o porcentual dos que responderam que é "boa" subiu de 18,6% em outubro para 21,0% em dezembro. Já a fatia dos que responderam que é "ruim" caiu de 20,1% para 16,8%.
Campelo disse que esse é um comportamento esperado em dezembro, já que as famílias recebem recursos novos de bônus ou 13º salário e, além disso, os dados da massa salarial no final deste ano são melhores do que no ano passado, o que também colabora para essa avaliação.
Ainda no que diz respeito à situação atual, a avaliação sobre a situação econômica local (referente a cidade na qual residem) dos consumidores permaneceu estável em dezembro em relação a novembro, segundo Campelo. Ainda que tenha ocorrido um aumento de 11,1% (novembro) para 12,8% (dezembro) dos que consideram a situação "boa" e queda de 48,8% para 48,2% dos que consideram "ruim", o saldo da pesquisa nesse indicador ficou inalterado.