A consultoria americana Alvarez&Marsal – que no exterior já atuou na reestruturação de empresas como a USAirways e Aeroméxico – deverá assumir a gestão da Varig nos próximos dias. Na prática, a medida é encarada como uma espécie de "choque de credibilidade" junto ao mercado, segundo fontes que acompanham de perto a situação da empresa. A medida, que estava prevista para acontecer no decorrer do processo de recuperação, será antecipada, em função do delicado quadro da empresa e da necessidade de acelerar os procedimentos da recuperação.
A antecipação da mudança foi requerida pelo Aerus, há duas semanas à 8ª Vara Empresarial. O Ministério Público (MP) deu parecer favorável e o juiz que conduz o processo, Luiz Roberto Ayoub, deferiu o pedido. O prazo para efetivar a mudança não está definido.
Segundo o MP, o requerimento previa a "antecipação da gestão profissional da companhia" e não havia motivo para "adiar medidas administrativas" que propiciem a efetiva recuperação das companhias".
Na prática, a Alvarez deverá indicar o conselho de administração da Varig e a diretoria da empresa. A versão é que o diretor-geral da Alvarez&Marsal Brasil, Marcelo Gomes, venha a se tornar o principal executivo da Varig. A firma já havia sido indicada pelos credores e vinha trabalhando na reestruturação. Uma fonte argumenta que para conduzir o processo a consultoria terá de ocupar postos-chave na companhia, como por exemplo os chamados de CEO e CFO nas empresas estrangeiras e que equivalem às funções de diretor-presidente e diretor-financeiro.
Procurada, a Alavarez&Marsal limitou-se a confirmar a existência da decisão. Já o diretor-presidente da Varig, Marcelo Bottini, não comentou o assunto. Bottini tem tido papel considerado relevante no processo de reestruturação da empresa, segundo fontes que acompanham o processo e é o gestor-interino no processo de recuperação. Por isso, segundo uma fonte, poderia permanecer na diretoria da companhia.
No parecer, o MP registra que "não se imputa à diretoria atual quaisquer atos ou condutas que levariam ao seu afastamento por força dos artigos 64 e seguintes da Lei 11.101". O artigo da lei enumera casos de problemas que poderiam levar ao afastamento de executivos, o que não é o caso, conforme o parecer do MP. E explica que o pedido do fundo foi feito frente à necessidade de agilizar a recuperação, para evitar uma "solução de continuidade".
No despacho, o juiz cita que não se trata de aplicar o mesmo artigo, mas sim "agilizar o cumprimento do plano de recuperação judicial". Na mesma decisão, o juiz concorda com o parecer do MP que solicita acelerar a entrada das ações da Fundação Ruben Berta (FRB) no Fundo de Investimento e Participação (FIP-Controle), que está sendo criado, para receber aportes de investidores e a conversão de créditos em participação acionária
O Banco Brascan será o administrador do fundo, que ainda não está operacional. Uma fonte comenta que o banco teria aceitado as indicações da Alvarez para a composição do conselho de administração e da diretoria da empresa.
A informação, ainda, era de que os valores em recebíveis que seriam antecipados pelo fundo americano Matlin Patterson não haviam sido concretizados até o fim da tarde. Teria surgido uma dúvida se seriam considerados como um ativo, que estaria bloqueado pela ação na Justiça do Trabalho que arrestou os bens da empresa.