O consultor e lobista paranaense Amauri Cruz dos Santos confirmou à Justiça Federal, em Curitiba, que o ex-senador Jader Barbalho (PMDB-PA) recebeu 20% dos valores liberados pela Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) para o projeto Usimar Componentes Automotivos. O valor ainda não foi levantado pelo Ministério Público Federal (MPF), mas, segundo o procurador Nazareno Wolff, ?é de cerca de R$ 8 milhões?. ?O envolvimento do Jader Barbalho fica provado na conjugação dos depoimentos e rastreamento bancário, além da busca em uma casa de câmbio?, disse.

O consultor era, segundo o procurador, quem mantinha contato com o ex-senador paraense. Pelo depoimento, os cheques com os valores que cabiam a Jader como comissão pela liberação dos recursos eram enviados por Santos via Sedex. Eles eram endereçados ao então assessor de Jader, Antonio José Costa de Freitas Guimarães, também processado.  Pelo seu trabalho, Santos confessou ter recebido 10% de comissão em cada liberação. Como foram feitas duas, num total aproximado de R$ 44,1 milhões, sua parte ficou em cerca de R$ 4,4 milhões.

Segundo Wolff, o rastreamento mostrou que o dinheiro entregue ao ex-senador ?foi depositado em contas de empresas laranjas e, em princípio, foi todo carreado para o exterior?. A ligação com o nome de Jader foi conseguida pelos procuradores numa busca e apreensão na Casa de Câmbio Cruzeiro, em Belém, fruto de outro procedimento investigatório, que envolvia a TV RBA. O procurador disse que nessa casa foram encontradas cópias de cheques da Usimar. ?É uma casa de câmbio que tem ligação com outros negócios do Jader Barbalho e isso é um vínculo muito forte?, acentuou.

De acordo com o procurador, os 20% repassados para o ex-senador na primeira liberação ao projeto teriam seguido para o exterior por meio das empresas cariocas Yahweh Nissi e Condor. Ainda segundo Wolff, da segunda parcela, de R$ 22 milhões, a maior parte da comissão que coube a Jader foi depositada na conta da empresa paulista Logística Operações Promocionais. Ele disse que a Logística está sendo investigada ?por repassar dinheiro para a Bombril, que, por sua vez, manda para o exterior?. ?A gente está fechando o circuito sobre um canal de lavagem?, afirmou.

O procurador disse, no entanto, que a maior parte do dinheiro liberado para a Usimar ficou com o sócio controlador do projeto, Teodoro Hubner Filho. ?O rastreamento bancário demonstra que ele está com a maior parte do dinheiro mesmo, que ele é o grande beneficiário?, acentuou. Ontem (05), o advogado de Hubner Filho, João Casillo, tinha declarado que seu cliente era ?vítima? do golpe.  Hoje, um ex-funcionário da empresa, Paulo Ivan Alberti, disse, em juízo, que Hubner Filho era ?centralizador? e ?sabia de tudo?.

Segundo Wolff, mesmo a auditoria contratada pelo controlador mostra que ele ficou com a maior soma. A defesa de Hubner Filho afirma que, nas obras físicas e na compra de equipamentos para o projeto, foram gastos R$ 20 milhões. O procurador acredita que as obras físicas devem ter consumido R$ 5 milhões – a perícia ainda está sendo realizada. Outra parte teria sido dada como sinal na compra de equipamentos e um tanto para a manutenção.

?Mas uma coisa é certa: a maior parte do dinheiro está com ele, ele pegou e consumiu no grupo empresarial dele, que estava endividado.?

Segundo depoimento do ex-diretor financeiro do grupo, Valmor Felipetto, na época da liberação da verba da Sudam, o endividamento era de R$ 45 milhões.  Wolff disse que a Receita Federal está fiscalizando a empresa para ver a situação.

 

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