A rediscussão do modelo de gestão da Ferroeste – ferrovia que liga Cascavel e Guarapuava, administrada pelo Ferropar e que apresenta inúmeros problemas – deve ser feito com urgência, ênfase e ganhar reflexos nacionais.
A avaliação é do consultor da área de logística Saulo de Tarso Pereira. ?Muitos dos problemas que ocorrem hoje na Ferroeste são observados também na administração da Rede Ferroviária Federal em todo país,? afirma
Para o consultor, que foi engenheiro da Rede Ferroviária Federal, o modelo de gestão da Ferroeste tem que ser revisto urgentemente para evitar os prejuízos econômicos que vem trazendo. ?São necessárias uma revisão e uma atualização dos procedimentos?, destaca. ?As medidas tomadas pelo governo do Paraná podem servir de balizamento para uma ação da União junto às empresas que gerenciam as ferrovias nacionais?, acrescenta.
De acordo com Saulo, antes de tudo, as ferrovias têm que exercer as sua função de garantir um transporte democrático com tarifas módicas, viabilizando assim a produção nacional e o crescimento do país.
Apesar disso, lembra o diretor administrativo, financeiro e jurídico da Ferroeste, Samuel Gomes, um relatório da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) aponta que a Ferropar, além de transportar cargas muito abaixo da previsão contratual, possui uma pequena parcela de clientes. ?Cerca de 95% do volume transportado pelas ferrovia entre Guarapuava e Cascavel são de apenas três clientes?, aponta Gomes.
Segundo o consultor e engenheiro Saulo de Tarso Pereira, nacionalmente o problema se repete e até se agrava. Para ele, as empresas que administram as ferrovias estão buscando somente os interesses privados, sem se importar na manutenção e na conservação de uma grande parcela dos trechos ferroviários. ?Hoje, 40% da malha da Rede Ferroviária, considerada não lucrativa, está totalmente parada, o que representa um enorme descaso com o patrimônio que é da nação?, afirma Saulo.
Ele recorda que, assim como ocorreu na Ferropar, a privatização da malha da Rede Ferroviária Federal S/A tirou o espaço dos pequenos e médios transportadores. ?As concessionárias dão prioridade aos grandes clientes. Porém, há demanda para muito mais do que isso?, destaca.
O engenheiro e consultor de logística afirma ainda que, devido à inoperância do setor no Brasil e a priorização do modal rodoviário, a matriz de transportes está cada vez mais invertida. ?No Brasil cerca de 70% das cargas transportadas são levadas através de rodovias, contra apenas 30% pelo modal ferroviário?, detalha. Segundo dados da Ferroeste, no Oeste do Paraná a diferença é um pouco maior, 73% das cargas são levadas por estradas e apenas 27% utilizando a ferrovia.
O diretor da Ferroeste, Samuel Gomes, reitera: ?Assim como fizemos em relação aos grupos dos antigos profissionais ferroviários, coordenados pelo Centro dos Ferroviários do Paraná e Santa Catarina, pedimos a colaboração do engenheiro Saulo de Tarso, uma das mais autoridades mais respeitadas do setor, para fazermos uma ferrovia servir à economia do Paraná?.
?Suas propostas são muito interessantes e serão consideradas pelo governo do Estado para a elaboração de um novo modelo de gestão para a ferrovia. Continuaremos a buscar a colaboração da sociedade paranaense em defesa da Ferroeste?, analisa.
A Ferroeste foi construída na administração anterior do governador Roberto Requião, entre 1991 e 1994, com a mão-de-obra de batalhões do Exército. Foi uma iniciativa que fez da ferrovia uma das mais baratas do país. Logo depois, no governo Jaime Lerner, ela foi privatizada. Hoje, carece de vagões, locomotivas e manutenção.