A política do governo federal de formar um mosaico de unidades de conservação na Amazônia para frear o avanço da fronteira agropecuária pode gerar dinheiro dentro de um mecanismo que valorize a floresta em pé. Segundo cálculo feito por pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos, destinar 240 mil quilômetros quadrados em 2004 e 2005 para a preservação teve como efeito colateral positivo a prevenção do desmatamento de outros 60 mil km2, uma vez que os desmatadores tendem a abandonar a região ou mudar de atividade.
Só esta salvaguarda equivale a deixar de emitir 600 milhões de toneladas de carbono para a atmosfera. De acordo com o único inventário nacional feito até hoje, o Brasil emite cerca de 200 milhões de toneladas de carbono por desmatamento todo ano.
O carbono é um dos elementos que, acumulados na atmosfera, promovem o efeito estufa e o aquecimento global. A principal fonte hoje no mundo é a queima de combustíveis fósseis, como petróleo e carvão, especialmente nos países desenvolvidos.
Porém, o corte e a queima da mata converte o carbono estocado na floresta em um gás-estufa. É justamente essa prática que coloca o Brasil entre os maiores emissores do mundo.
No âmbito da Convenção do Clima da ONU, prevenir esta emissão tem o potencial de produzir cifrões no futuro. Não apenas pelos produtos florestais mas simplesmente pela não emissão de mais carbono na atmosfera.
O desmatamento evitado ainda não gera dinheiro, mas esta possibilidade aumenta a cada ano. ?Normalmente é bastante difícil calcular quanto vale a floresta em pé e esta pesquisa traz elementos novos?, diz o biólogo Paulo Moutinho, Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).
Ele é um dos autores do estudo ao lado de Daniel Nepstad, do Centro de Pesquisa de Woods Hole, e de Britaldo Soares-Filho, da Universidade Federal de Minas Gerais. Os dados foram apresentados na última Conferência das Partes da Convenção do Clima (COP), que aconteceu neste mês em Nairóbi, no Quênia.
Moutinho é também um dos autores de uma proposta, apresentada na COP de 2003, que inclui no Protocolo de Kyoto o que não foi desmatado nas florestas tropicais – o que permitiria gerar créditos a serem vendidos no mercado internacional de carbono.