Conselho italiano

Nem tudo o que vem de fora serve à nossa bitola social. Mas Sciacchitano colocou o dedo na ferida outra vez quando observou que “não se pode permitir mesas fartas, celulares e outras facilidades para os capi do crime”. Nada de “vida alegre” como a que, vira e mexe, sabemos, é proporcionada a delinqüentes, com o nome de prisão especial e coisas do gênero. Ao contrário desse tipo de hotel mantido às expensas do erário público, onde visitas são permitidas, inclusive de amantes e assemelhados, eles devem ser confinados em prisões de segurança extraordinária, com rigorosa administração.

As três observações de Sciacchitano devem ser levadas na devida conta. Primeiro, essa de colocar um pouco mais de rigor nas prisões efetuadas. Aqui, nosso problema de superlotação favorece a promiscuidade e a organização de verdadeiras quadrilhas que são comandadas de dentro para fora, com o uso da moderna tecnologia de comunicação via telefone celular às barbas da Polícia. Isso tem a ver com o outro conselho: a necessidade de existência de uma vontade política para dar efetivo combate ao crime, e não apenas discursos, como ultimamente se tem presenciado. De nada serve um ministro da Justiça vir a público para reconhecer que o tráfico está praticando “ação de Estado” se o Estado de verdade não é capaz, ou não toma a iniciativa, de combater essa intromissão paralela até o seu completo desmantelamento. Do presidente da República ao último delegado de Polícia, o discurso existe. O que falta, de fato, é vontade e ação que envolva todas as forças possíveis para dar cabo aos comandos criminosos hoje agindo com impressionante liberdade.

É na pergunta sobre o que a população brasileira quer diante da ação criminosa que reside a maior sugestão do vice-procurador italiano. Com efeito, estamos assistindo a uma verdadeira guerra civil e pouca reação se percebe de parte da sociedade. Se ela pouca coisa poderia contra o crime organizado (afinal, não se trata de fazer justiça com as próprias mãos), tem o poder de pressionar as autoridades de todos os níveis para o cumprimento de uma ação constitucional de primeira grandeza, que é a de proporcionar segurança aos cidadãos livres e cumpridores de suas obrigações.

Eis, pois, uma observação arguta e necessária: o que a população brasileira quer? Se continuar calada, a cada assalto, a cada seqüestro, a cada assassinato crescerá ainda mais a ousadia dos que agem impunemente às barbas da Polícia e da Justiça. Levantar muros e cercas, circuitos eletrônicos ou instalar vigilância eletrônica de última geração – tudo isso ajuda a quem tem dinheiro para fazê-lo, mas não substitui a necessária mobilização social em busca da mínima tranqüilidade buscada por todos – pobres e ricos.

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