Depois de quase um mês de trabalho, o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da
Câmara já ouviu sete parlamentares e uma testemunha do deputado Roberto
Jefferson (PTB-RJ), que é réu em processo apresentado pelo Partido Liberal ao
Conselho. O processo pede a cassação de Jefferson por quebra de decoro — o que
pode acontecer por ele ter feito denúncias sem comprovação. Os sete deputados
ouvidos pela Comissão, de acordo com Jefferson, estariam direta ou
indiretamente, envolvidos num suposto esquema de pagamento de mesadas no
Congresso.

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Além deles, o Conselho ouviu depoimento da ex-secretária do
publicitário Marcos Valério, Fernanda Karina Somaggio. Ela reafirmou ao Conselho
de Ética haver envolvimento de Marcos Valério com membros do Partido dos
Trabalhadores que seriam, segundo declarações do deputado federal Roberto
Jefferson, articuladores do chamado "mensalão".

O primeiro a falar ao
Conselho foi o próprio deputado Roberto Jefferson. Durante mais de sete horas de
depoimento, ele confirmou a existência do pagamento de mesadas a deputados do PP
e PL pelo PT. Jefferson também declarou que recebeu R$ 4 milhões do PT para as
campanhas às eleições municipais do ano passado, mas não deixou claro o destino
dos recursos. O deputado ainda citou nomes de parlamentares que teriam
articulado o pagamento do "mensalão" no Congresso, além de denunciar indicações
políticas em empresas estatais que estariam promovendo repasses irregulares de
verbas.

Depois de Jefferson, foi a vez do ex-ministro das Comunicações e
deputado Miro Teixeira (PT-RJ). O deputado confirmou o que já havia dito antes:
que ouviu falar em diversas ocasiões, nos bastidores da Câmara, sobre a
existência do suposto esquema de "mensalão"; e que Roberto Jefferson (PTB-RJ)
falou a ele (Teixeira) sobre esse assunto em 2003 – enquanto ainda estava no
Ministério. Miro Teixeira, no entanto, não disse quais seriam os parlamentares
que teriam conversado com ele sobre a mesada.

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Os deputados Carlos Alberto
Leréia (PSDB-GO) e Raquel Teixeira (PSDB-GO) foram explicar ao Conselho as
denúncias de que o deputado Sandro Mabel (PL-GO) teria oferecido dinheiro à
deputada Teixeira para que ela ingressasse no PL. Raquel Teixeira confirmou a
existência da proposta durante o seu depoimento. Já o deputado Sandro Mabel,
ouvido no mesmo dia que a parlamentar, negou ter feito a oferta.

Os
deputados José Múcio (PTB-PE) e Pedro Henry (PP-MT) também foram ao Conselho
prestar esclarecimentos: segundo Jefferson, estariam envolvidos no mensalão.
Múcio, que é líder do PTB na Câmara, confirmou ter sido informado por Jefferson
da existência do pagamento de mesadas. O parlamentar também confirmou que
Roberto Jefferson levou a proposta do mensalão ao partido, mas a sugestão não
foi apresentada formalmente à bancada nem foi votada.

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O deputado Pedro
Henry, também citado por Jefferson, também negou ter tomado conhecimento de um
suposto esquema de "mensalão" no Congresso.

Na próxima terça-feira (05),
o Conselho de Ética ouve o depoimento do deputado Carlos Rodrigues (PL-RJ),
outro parlamentar sobre o qual Jefferson testemunhou. A partir da próxima
quarta-feira (06), o Congresso entra em recesso e o Conselho vai paralisar as
atividades.

No início de agosto serão ouvidos o líder do PP, José Janene
(PR), o deputado José Dirceu (PT-SP) e o presidente do PP, Pedro Correa (PE),
ainda como parte do trabalho de esclarecer o depoimento de Jefferson. Na segunda
etapa serão ouvidas outras pessoas que possam ajudar a investigar as declarações
do deputado.

Fernanda Karina Somaggio deve ser ouvida, assim como as
testemunhas do deputado Roberto Jefferson: o ex-vice governador do Distrito
Federal, Benedito Domingos (PP), Maria Cristina Mendes Caldeira, ex-mulher do
presidente do Partido Liberal, Valdemar da Costa Neto, o ex-diretor da Empresa
de Correios e Telégrafos, Eduardo Medeiros, e o governador de Goiás, Marconi
Perillo (PSDB). Outros 70 requerimentos de convites para depoimentos dependem
ainda de aprovação pelo Conselho.

O relator do órgão, deputado Jairo
Carneiro (PFL-BA), apresentou nesta semana uma relação de nove pessoas para
serem ouvidas já no início de agosto. Na terça-feira, segundo o relator, o
Conselho pretende votar requerimentos de sua autoria que convidam para depor o
presidente nacional do PT, José Genoíno, o tesoureiro e o secretário-geral do
PT, Delúbio Soares e Silvio Pereira, o empresário Marcos Valério, dono da
agência de publicidade SMP&B, o ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, e
o tesoureiro do PTB, Emerson Palmiere.