A derrota do Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC) no contencioso em que a União Européia quer obrigar o País a receber seus pneus descartados deve estimular a rejeição do projeto de lei do senador Flávio Arns (PT-PR), que autoriza a importação de pneus usados. É o que prevê o relator da matéria na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), Romeu Tuma (PFL-SP). O senador entende ser esta a única maneira de os parlamentares impedirem que o território nacional venha a se transforma em depósito de lixo de países ricos. "Eles querem mandar para cá os pneus e outros resíduos", alega. Sua avaliação é a de que a maioria dos colegas será favorável ao parecer contrário à importação que apresentará nos próximos dias.
Como um dos principais opositores à compra de pneus velhos de outros países, o senador César Borges (PFL-BA) é enfático ao afirmar que nunca houve empenho do governo para impedir essa importação. "O governo faz um jogo dúbio, tem um jogo aí por trás a favor da importação de pneus velhos", acusa. "Agora, mais do que nunca, não podemos esmorecer, faremos o possível para que o projeto não avance". A mesma opinião tem o senador Tião Viana (PT-AC). "O Brasil não pode hesitar em questões que dizem respeito à qualidade de vida e ao meio ambiente, não podemos nos tornar depositários de lixos das sociedades modernas", alega.
O senador Demóstenes Torres (PFL-GO) afirma que chegou a ser designado para relatar o projeto, mas que ficou sem a tarefa após anunciar ser contrário à importação de pneus usados "a um pessoal do Paraná". "Não tem cabimento o Brasil importar lixo". A dubiedade do governo na matéria fica patente em vários fatos. O principal deles é a do autor ser um senador petista. Flávio Arns disse que sua proposta foi substituída pelo substitutivo de outro governista, o líder do PMDB, Valdir Raupp (RO).
Arns afirma que o debate ficou "muito radicalizado", a ponto de não interpretar corretamente sua idéia de "dar ao Brasil uma salvaguarda" no caso de uma decisão como a de agora da OMC. O senador disse que seu projeto prevê "contrapartida ambiental" a cada pneu importado, o que obrigaria o importador a recolher um determinado número de pneus abandonados na natureza por cada um "estrangeiro" que entrar no Brasil".