Recife (AE) – Um confronto, por volta das 6h30 hoje, entre 400 lavradores ligados ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o empresário Paulo Miranda, proprietário da Fazenda Berra Boi, em Glória do Goitá, a 72 quilômetros do Recife, durante tentativa de reocupação da área, deixou cinco feridos – quatro sem-terra e um funcionário da propriedade.
Sob o comando do líder regional do movimento Jaime Amorim, os sem-terra fizeram dois reféns até decidirem deixar a propriedade, à tarde, sob a mediação do promotor agrário estadual Édson Guerra.
De acordo com a ouvidora agrária do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) na capital pernambucana Elizabete Rafaeol, não houve negociação para a saída dos trabalhadores.
"Eles recearam ficar por temer mais violência", disse, depois de falar com os feridos. Uma moto carbonizada, uma caminhonete Blazer amassada com pancadas, uma porteira arrancada estacas de cimento quebradas e parte de uma plantação de mandioca destruída foram saldo do tumulto. O MST acusa Miranda, dono de uma imobiliária que leva o nome dele, de ter atropelado os sem-terra numa estrada dentro da fazenda. Severino Manoel do Nascimento, de 52 anos, teve uma perna quebrada na altura do joelho e um corte na cabeça, enquanto Severino José da Silva sofreu escoriações e uma pancada nas costelas. Lucilene Maria do Nascimento, de 20 anos, precisou ter uma perna imobilizada e Elionai Santana de Melo, de 35 anos, teve uma intensa crise nervosa.
Todos foram atendidos num hospital próximo. Ninguém ficou internado. Paulo Miranda, de 62 anos, afirma que os sem-terra foram para cima da caminhonete quando, ao ser avisado da tentativa de reocupação, o empresário foi até eles para tentar expulsá-los. "Eles rodearam o carro, começaram a bater, pegaram o administrador da fazenda, que estava na moto que me seguia, além do motorista", disse Miranda. "Se eu não escapasse, eles poderiam até me matar."
O MST ocupou a Berra Boi em abril e foram despejados por força de uma reintegração de posse concedida pela Justiça, num clima de tensão e violência. Hoje, eles tentaram reocupar a área que, segundo Miranda, lhe pertence há 25 anos e tem 390 hectares. Para o MST, a propriedade é improdutiva. Miranda diz que cria 320 cabeças de gado das raças guzerá e guzolando e 35 cavalos mangalarga marchador, além de plantar palma, capim irrigado e mandioca e ter 12 empregados contratados.
"É uma empresa", afirma. A delegada de Glória de Goitá, Maria Betânia de Freitas Tavares, iniciou as diligências. Miranda prestou queixa e os empregados dele seriam levados para o Instituto Médico Legal (IML) para fazer exame de corpo delito – um deles, Rosildo Ferreira, sofreu uma lesão na cabeça. Os carros serão encaminhados à perícia. O MST presta queixa amanhã (05) na mesma delegacia.