Rio (AE) – Um homem morreu e uma criança de 13 anos ficou ferida durante confronto entre policiais militares e traficantes no Morro da Formiga, na Tijuca (zona norte), hoje (10) de manhã. O biscateiro Antônio Rosa Sobrinho, de 72 anos, voltava da igreja quando foi atingido na cabeça. Já o menino Joelson dos Santos, ferido na perna direita, jogava bola numa quadra da comunidade. Revoltados, os moradores desceram o morro e fecharam por meia hora as duas pistas da rua Conde de Bonfim, que fica próxima à favela.

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O conflito ocorreu por volta de 9 horas, quando um grupo de PMs do Posto de Policiamento Comunitário da favela estava realizando um patrulhamento no local.

Testemunhas contaram que os policiais entraram atirando, mas a versão foi negada pelo coronel Ubiratan Ângelo, comandante do Comando de Policiamento em Áreas Especiais (CPAE).

"Estamos investigando o que aconteceu, mas os policiais disseram que foram recebidos a tiros por criminosos. As vítimas eram pessoas de bem. Isso é que é lamentável".

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Sobrinho, mais conhecido como ‘seu Toninho’, foi baleado numa escadaria no alto do morro, na localidade conhecida como Coruja.

Moradores informaram que ele morreu na hora e que os PMs o arrastaram pela perna até o carro policial que o levou ao Hospital do Andaraí, também na Tijuca. Para conter o protesto das pessoas que tentaram impedir a remoção do idoso, a polícia usou spray de gás de pimenta e bombas de gás lacrimogêneo.

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O protesto na rua Conde de Bonfim reuniu cerca de 70 moradores, que usaram paus e pedras para fechar a via. A manifestação só foi contida quando a polícia lançou contra eles bombas de efeito moral e de gás lacrimogêneo. Alguns carros tiveram os vidros quebrados. Três pessoas foram detidas.

Patrícia Ferreira Dantas Rosa, de 32 anos, lamentou a morte do pai. "Ele estava vindo da igreja. Tinha medo da violência e queria se mudar para a parte baixa da favela", contou ela. Por causa de um derrame, o biscateiro tinha os movimentos do lado esquerdo do corpo restritos. Ele também era surdo.

No fim da tarde, o menino Joelson dos Santos teve alta. "Ele estava na quadra quando chegou perto de mim e disse: ‘tio, acho que entrou alguma coisa na minha perna.’ Aí vi que era tiro", contou Waldir Neves, o Dida, de 46 anos, que dava a aula de futebol. Segundo ele, havia cerca de 80 crianças entre 8 e 14 anos na quadra, distante aproximadamente 800 metros do local do tiroteio.

O confronto também deixou em pânico a família do comerciante Dornel da Rosa Pereira, de 48 anos. Tiros atingiram dois cômodos da casa dele, que fica junto à escadaria onde Sobrinho foi baleado. "Em um dos quartos, minha neta de dois meses estava dormindo. Levamos um susto, mas ainda bem que nada aconteceu com ela", disse Pereira.

A mulher dele, que não quis se identificar, contou que teve de abrir a porta para as pessoas que queriam fugir das bombas lançadas pela polícia. "Nos abrigamos (dos tiros) no corredor. Foi um desespero. Depois, todo mundo queria entrar para lavar o rosto por causa do gás de pimenta."