Confronto entre palestinos espanta peregrinos de Belém

Na Praça da Manjedoura, em frente da Igreja da Natividade, vê-se poucos enfeites, bandeirolas ou luzes piscantes. Poucas árvores carregam guirlandas, estrelas ou ornamentos. A timidez na decoração reflete a melancolia que tomou conta de Belém na semana do Natal. Na cidade onde, segundo a tradição cristã, Jesus Cristo nasceu, o espírito natalino foi substituído pela preocupação.

Os comerciantes locais se desesperam com a falta de turistas – e a prefeitura, com a escassez de dinheiro para o pagamento dos salários de milhares de funcionários. Já os habitantes da cidade estão inquietos com os recentes confrontos entre os rivais Hamas e Fatah, as duas facções que disputam o poder na Autoridade Nacional Palestina (ANP). E todos, sem exceção, não esquecem do muro de nove metros que Israel ergueu em volta da cidade sob alegação de evitar atentados terroristas palestinos, que mataram mais de mil israelenses desde 2000.

?Esse será o Natal mais triste de todos os tempos por aqui?, disse ao jornal O Estado de S. Paulo o prefeito de Belém, o árabe cristão Victor Batarseh, numa afirmação aparentemente exagerada, mas que exemplifica o sentimento dos moradores de uma das mais importantes cidades para o cristianismo.

O abatimento foi reforçado na quarta-feira, com a divulgação da mensagem anual aos cristãos palestinos e israelenses do patriarca latino de Jerusalém, o arcebispo Michel Sabbah: ?Belém deveria ser a cidade da paz. Mas infelizmente é agora o contrário, uma cidade de conflito e morte. A ocupação e a privação de liberdade de um lado continuam, bem como o medo e a insegurança de outro.?

Batarseh estima em menos de 10 mil o número de peregrinos que passarão o Natal em Belém este ano. Metade dos 20 mil do ano passado – 2.500 estrangeiros e o resto vindos de outras partes dos territórios palestinos e de Israel. A quantidade também é muito menor do que os mais de 100 mil que costumavam lotar a Praça da Manjedoura para as celebrações natalinas durante a década de 90. Com a intifada palestina, que começou em setembro do ano 2000, tudo mudou: a violência na região afugentou os turistas estrangeiros tanto de Israel quanto dos territórios palestinos. A Terra Santa deixou de ser um destino atraente para peregrinos cristãos.

Para o vendedor de suvenires Hader Hassan, de 27 anos, a situação é crítica. Há sete anos, ele oferece colares, presépios de madeira e outras bugigangas a visitantes na Praça da Manjedoura. Este ano, no entanto, Hader tem reclamado bastante: ?Estamos quase no Natal e a praça está vazia. Muitas lojas simplesmente fecharam as portas.

Segundo ele, as batalhas campais da última semana na Faixa de Gaza desanimaram os últimos interessados em visitar a cidade natal de Jesus. Militantes do partido moderado Fatah, do presidente Mahmud Abbas, e do Hamas, do primeiro-ministro Ismail Haniyeh, chegaram à beira de uma guerra civil na Faixa de Gaza por causa da convocação de eleições antecipadas por Abbas. Os confrontos deixaram 17 mortos.

Com 30 mil habitantes, Belém tem hoje maioria muçulmana. Na década de 40, 90% dos moradores da cidade eram cristãos – hoje o percentual é de apenas 35%. Na grande Belém, o percentual é ainda menor: 20% dos 150 mil habitantes. De acordo com um censo da ONU, só nos últimos 6 anos, 10% dos cristãos deixaram Belém fugindo das tensões internas palestinas e dos postos de controle israelenses. Com a subida ao poder do Hamas, em março deste ano, muitos cristãos palestinos – 2% dos 4,5 milhões de moradores da Cisjordânia e da Faixa de Gaza – aceleraram a partida.

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