O emir do Qatar afirmou nesta segunda-feira (21) que o conflito entre Israel e o Hezbollah oferece "uma grande oportunidade" para se alcançar a paz no Oriente Médio e que a guerrilha libanesa restaurou "o orgulho" árabe ao conquistar uma vitória sobre o Estado judeu.
Na primeira visita ao Líbano de um chefe de Estado desde o início do conflito, o xeque Hamad Bin Khalifa al-Thani disse que a guerra de 34 dias mostrou que Israel não pode intimidar os árabes. "Acredito que existe mais oportunidade de paz, mais do que antes", afirmou o xeque numa entrevista coletiva concedida ao lado do presidente libanês, Emile Lahoud. "Em relação aos israelenses, eles costumavam ser capazes de subjugar os árabes pela força militar. Agora, isso não é mais possível depois do que ocorreu no sul do Líbano", prosseguiu.
A capacidade da guerrilha do Hezbollah em resistir a incessantes ataques aéreos israelenses e infligir grandes perdas às tropas de Israel no sul do Líbano – e manter o disparo de foguetes contra o norte do Estado judeu – foi considerado no Líbano e em todo o mundo árabe como uma sucesso, depois que em guerras anteriores exércitos árabes foram massacrados em poucos dias.
"O povo libanês conquistou a primeira vitória árabe e isso é motivo de orgulho", disse xeque Hamad, cujo governo moderado tem contatos com Israel, mas não plenas relações diplomáticas.
O emir chegou a sugerir que o petróleo deveria ter sido usado como uma arma no conflito, com os árabes produtores do produto, assim com o Irã, suspendendo as vendas como forma de pressão. "Se a arma petróleo tivesse sido usada, ela serviria aos interesses libaneses, mas infelizmente ela não foi usada", disse ele respondendo à pergunta se um dia os árabes voltariam a se unir com tal tática, como ocorreu com sucesso na guerra árabe-israelense de 1973.
"O Qatar está pronto para ajudar o Líbano, no mundo árabe e no Conselho de Segurança" da Organização das Nações Unidas (ONU), adiantou o emir.
No sábado, o presidente do parlamento do Líbano, Nabih Berri, afirmou que o Qatar havia prometido ajudar na reconstrução de Bint Jbail e outra cidade sulista, que jornais identificaram como sendo Khiam, uma localidade xiita perto da fronteira com Israel. O Qatar ocupa uma cadeira não permanente no Conselho de Segurança da ONU.
O emir exigiu que Israel suspenda o bloqueio naval e aéreo que ainda impõe ao Líbano, como contemplado na resolução de cessar-fogo da ONU, e revelou que mesmo o vôo que o levou ao país teve de ser aprovado pelo Estado judeu. "Para chegarmos a Beirute, temos de ter a aprovação israelense", contou. "Qualquer avião que vem para aqui, as torres de controle israelense tem de aprovar. Não ficamos intimidados com isso, mas esperamos que no futuro essa questão (do bloqueio) seja removida e que os israelenses implementem a última resolução do Conselho de Segurança. É isso que pedimos". Ele considerou a ação israelense de sábado no Vale do Bekaa uma violação do cessar-fogo.
O xeque Hamad rejeitou a alegação de Israel de que o bloqueio visa a impedir que o Hezbollah se rearme. Para ele, o Líbano tem o mesmo direito à autodefesa que o Estado judeu. "É inaceitável que armas sejam banidas para os libaneses e permitidas para os israelenses. Aquele que acredita nesta teoria quer colocar o Líbano numa jaula para que possa se tornar uma presa fácil de Israel a qualquer momento", avaliou.