Cumprindo ordem do presidente Lula, o ministro José Dirceu, da Casa Civil, veio a público para dizer que tanto o presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, quanto o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, têm “total confiança do governo” e que por isso está descartada a hipótese de que os dois – ou qualquer um deles – abandonem temporária ou definitivamente os cargos públicos que ocupam. “São acusações infundadas, feitas por pessoas que não se conformam com o crescimento da economia”, sentenciou o ministro, repetindo, segundo afirma, a vontade presidencial.
As “acusações infundadas” referem-se a evasão fiscal e, no caso do presidente do BB, evasão e favorecimento do PT com dinheiro do banco (a história dos ingressos para o show em benefício da nova sede nacional do partido). No caso da evasão, a denúncia é pesada e as explicações apresentadas não convenceram ninguém. No caso do dinheiro do BB, Casseb é réu assumido, já que acabou assumindo o erro. Mas o presidente decidiu que ambos ficam no governo. E está decidido.
O assunto, entretanto, não está encerrado. E quem perde com isso são todos os brasileiros. A oposição ganha mais combustível para continuar sua tarefa de desgaste em que já se especializa e a situação do governo fica cada vez mais frágil. Governo frágil não interessa ao País, principalmente agora que se aguardava algum resultado positivo na economia, depois de longo período de vacas magras.
Ainda não nos livramos dos efeitos negativos do Waldogate – o episódio que envolveu o ministro José Dirceu nas gravações do ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil, Waldomiro Diniz. Uma pesada nuvem de dúvidas e interrogações pesa sobre tudo quanto se refere à maneira como o PT arrecadava fundos para campanhas políticas junto a bicheiros e comandantes da jogatina nacional. Waldomiro era amigo pessoal e de longa data de Dirceu e a crise política teve o efeito de um breque no governo com um arrasto de quase seis meses.
Nem isso está resolvido e vieram, quase juntos, os casos da ONG Ágora, envolvendo um empresário amigo do presidente Lula em negócios pouco claros do programa de estímulo ao primeiro emprego, e dos vampiros da Saúde Pública – uma bem urdida quadrilha de ladrões estabelecidos em torno dos negócios com o sangue dos brasileiros.
Agora explode esse outro escândalo que o Planalto insiste pertencer apenas ao campo da fofoca e da maquinação política (mas tudo é fofoca e maquinação?), quando, na verdade, seria muito simples resolvê-lo no campo da investigação científica. Afinal, se houve evasão fiscal, bastaria que a Receita Federal – sem dúvida, o mais bem aparelhado órgão do governo federal – fosse a fundo e apresentasse a conta para os sonegadores. Como ocorre aqui na planície, com pequenos contribuintes. Junto com Meirelles e Casseb, estava também o diretor de Política Monetária do Banco Central, Luiz Augusto Candiota, já quase esquecido, pois resolveu abandonar o barco logo no início.
A “confiança total” do presidente Lula nos dois assessores não convence nem mesmo companheiros seus. O senador Eduardo Suplicy – um dos expoentes do PT – é o mais ardoroso defensor da completa investigação do caso e da submissão dos dois graduados funcionários públicos a uma rigorosa sabatina perante a Comissão de Fiscalização e Controle. Suplicy reforça assim as vozes que entendem, como o líder do PSDB, Arthur Virgílio, que “um presidente do Banco do Brasil não tem o direito de ultrapassar a lei e achar que está tudo bem”.
O problema maior é que quanto mais o presidente Lula confia nessa gente com rabo de palha, mais desgaste sofre ele pessoalmente perante a opinião pública. Aqui já não se fala, como lá, em confiança total.