Rio – A desaceleração da economia e as incertezas quanto ao futuro derrubaram o Índice de Confiança do Consumidor (ICC), que encolheu 1,2% em novembro, depois de crescer 4,2% em outubro. A maior deterioração ocorreu nas expectativas quanto aos próximos seis meses, com destaque para a situação financeira das famílias (queda de 7%). Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), os resultados projetam desempenho fraco para o Produto Interno Bruto (PIB) do último trimestre.
"Nada indica que o quarto trimestre vai ser muito melhor do que o terceiro, com base nos indicadores antecedentes de confiança do consumidor", disse o vice-diretor do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, Vagner Ardeo. Ele explicou que o índice de confiança funciona como uma prévia do que pode vir a ocorrer na economia. O índice divulgado hoje (30) é o segundo da série do novo indicador da FGV.
O ICC recuou de 104,2 pontos em outubro para 103 pontos em novembro. O cálculo do indicador começou a ser feito há dois meses e setembro é considerado o mês-base, com valor 100. Enquanto o Índice de Situação Atual "andou de lado", de 100,7 para 100,9 pontos, houve recuo no Índice de Expectativas futuras de 106,1 para 104,2 pontos. Isso mostra, na avaliação do coordenador da pesquisa, Aloísio Campelo, que o consumo não deverá induzir o crescimento no fim do ano, época tradicionalmente marcada pelo aquecimento das vendas.
Ao comentar o PIB do terceiro trimestre, Campelo disse que os resultados da indústria já eram esperados, a partir dos dados da Sondagem Industrial da FGV, mas afirmou ter ficado surpreso com a "magnitude" da queda da economia. Para Campelo, o avanço da economia este ano deverá ficar entre 2,5% e 3%. Segundo a fundação, o consumidor tende a ser conservador em cenário de incerteza e há dúvidas de como será a retomada do crescimento.
Ele relacionou a queda da confiança do consumidor ao avanço de notícias negativas sobre a desaceleração da economia no terceiro trimestre, que já era esperada por economistas e analistas de mercado; a dúvidas sobre os efeitos do aperto monetário e à crise política. A coleta de dados foi feita entre 1.º e 22 de novembro, período em que o ministro Antonio Palocci figurou no centro da crise política e foi alvo de disputa pública com a ministra Dilma Rousseff.
"Na medida em que vai tendo mais notícias negativas no front econômico, isso gera certa incerteza", diz Campelo. A piora de expectativas foi maior nas classes de maior renda, que têm "maior acesso à informação". A fatia que acredita em melhora da situação familiar nos próximos meses caiu de 42,6% para 34,9% de outubro para novembro. A fatia que projeta piora foi de 5,3% a 7,2%.
A principal evolução positiva foi na expectativa de compras: subiu de 71,7% para 80,3% a parcela dos que esperam aumentar aquisições, resultado que pode estar contaminado pela perspectiva de liberação do décimo terceiro salário e do Natal. Um detalhamento da pesquisa também mostra que a proporção dos que planejam comprar automóvel em seis meses caiu de 14,6% em setembro para 12,7% em novembro. Avançou de 27,2% para 36,7% a parcela de pessoas dispostas a viajar em férias (dado também ligado ao fator sazonal). Apesar do dólar favorável, a parcela que pretende ir para o exterior encolheu de 15,6% para 12% em dois meses, enquanto a intenção de viagens domésticas foi de 83 5% para 87,2%.