São Paulo (AE) – Por que Vanderlei Cordeiro de Lima poderia ter ganho a medalha de ouro olímpica? O arrazoado técnico sobre a maratona de Atenas e o que o fundista brasileiro perdeu depois de ser atacado pelo ex-padre irlandês Cornelius Horan no 36º quilômetro da prova serão tema de novo documento de apelo ao presidente da Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF), Lamine Diak – a medida tem o aval do Comitê Olímpico Brasileiro (COB).
Em Atenas, a IAAF negou o pedido dos brasileiros, que queriam que Vanderlei também recebesse a medalha de ouro. “Ontem, revi o vídeo da prova. Fiz vários cálculos e acho que Vanderlei poderia ter vencido a prova se não tivesse sido atacado”, afirma o técnico Ricardo D’Angelo, que recebeu do presidente da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), Roberto Gesta de Melo, para revisão, uma cópia do documento que será enviado à IAAF.
Ricardo D’Angelo, técnico do medalhista de bronze desde 1992, explica as razões de sua teoria, que contraria as afirmações de especialistas de que o italiano Stefano Baldini, que diminuía sua desvantagem em relação ao brasileiro a cada quilômetro, fatalmente passaria Vanderlei.
“No mínimo, o Vanderlei tinha chance real de vitória. Do quilômetro 35 para o 40, incluindo o stop and go (como define o ataque do irlandês, usando um termo do automobilismo), ele correu 15m09 e o italiano, 14m39s. Até o quilômetro 35, antes do ataque, a diferença entre eles era de 28 segundos. Se não tivesse havido o incidente, Baldini só teria encostado no Vanderlei no quilômetro 40”, explicou.
O técnico retoma o raciocínio, observando que, com o ataque de Horan, dados não estatísticos entraram no processo. Vanderlei sofreu grande descarga de adrenalina, perdeu concentração, ritmo de prova e ainda 15 segundos. “O italiano estava tirando 6 segundos a cada quilômetro, mas, para alcançar Vanderlei, teria de tirar 7,5 segundos. Quando houve o problema, o italiano não estava visualizando o Vanderlei. Ter o rival no campo de visão muda a motivação.”
Ricardo D’Angelo, que não integrou oficialmente a delegação brasileira, assistiu à maratona pela TV de um bar, perto do estádio Panathinaiko. Quando Vanderlei abriu 28 segundos, o treinador ganhou de Jos Hermens, da Global Sports Communication, que administra a carreira do atleta, o ingresso para entrar no estádio. “Ele me disse: ‘Hoje, você vai ao estádio’.”
O incidente assustou o treinador. “Nunca tinha visto aquilo. Imediatamente, liguei para o Martinho Nobre, chefe de equipe, pedindo para protestar, mesmo sabendo que não acolheriam”, contou.
O treinador ainda andou 1.200 metros na contra-mão da prova, desesperado, procurando seu atleta. Ficou aliviado ao ver Vanderlei, vir bem à frente do quarto colocado, para garantir o bronze. “Naquela hora, rezei pela medalha. Tive o ouro na mão, mas sabia que o bronze teria repercussão incrível.”
Confederação Brasileira de Atletismo quer ouro para Vanderlei
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