Na 8ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP-8) está ocorrendo a estruturação do Fórum de Comunidades Locais. Hoje (27) pela manhã assessoras da Cooperativa Ecológica de Mulheres Extrativistas de Marajó (Cemem), que encabeçam a iniciativa, estavam divulgando o endereço virtual da recém-criada lista de debates do fórum.

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"Nós sempre fomos caracterizados como indígenas, dentro da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB). Não tínhamos uma representação própria", contou a assessora técnica Thaissa Oliveira Pinheiro. "O resultado disso é que na hora que as recomendações eram concretizadas em políticas, sempre se traduziam em ações voltadas apenas para os povos indígenas".

A iniciativa de criar o fórum veio da brasileira Edna Marajoara, diretora do Cemem. A idéia foi lançada em fevereiro deste ano em Granada, na Espanha, quando ocorreu a última reunião do Grupo de Trabalho Permanente sobre Acesso a Recursos Genéticos e a Benefícios Compartilhados. "O movimento de mulheres campesinas da Europa já aderiu ao projeto. Mas ainda estamos iniciando nossas articulações", revelou Pinheiro.

Comunidades locais ? muitas vezes chamadas também de tradicionais ? são os grupos não-indígenas que também têm sistemas coletivos de uso e apropriação do território, de construção do saber como patrimônio (não como propriedade individual). São os extrativistas, os quilombolas, os ribeirinhos.

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No sábado (25), no chamado Dia Brasil, Edna Marajoara fez uma intervenção nos debates, falando em nome do Fórum de Comunidades Locais. Ela questionou o resultado concreto da COP-8 para as comunidades locais e pressionou o governo federal para que enviasse o quanto antes ao Congresso o projeto de lei que regula o acesso a recursos genéticos e aos conhecimentos tradicionais associados.

"O Cemem tem 200 cooperadas, que extraem o óleo de andiroba usando uma técnica centenária e sofrem muito com a biopirataria e com a falta de políticas específicas", revelou Pinheiro. A primeira dificuldade que as andirobeiras da ilha do Marajó enfrentam é que só podem coletar a amêndoa da andiroba que cai no rio ? como as terras da ilha são propriedade particular ou patrimônio da União, Pinheiro contou que a retirada das amêndoas diretamente da árvores está proibida.

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"O processo de trabalho é lento, manual. Durante 15 dias, a polpa da andiroba fica descansando na sombra, embrulhada em folha de bananeira. Depois, é colocada em uma espécie de funil de madeira, para escorrer o óleo. Cada litro é vendido a R$ 10 ou R$ 15, diretemente para o consumidor final", relatou Pinheiro.

"O óleo que sai daí é um cosmético mas é também remédio, serve como cicatrizante. As empresas já utilizam um sistema de prensagem, que reduz as propriedades medicinais do óleo. Elas compram a polpa da amêndoa diretamente dos fazendeiros ? e não pagam muito pouco por isso".

A COP é o órgão deliberativo da CDB, que se reúne a cada dois anos. Em Curitiba, há 3.600 delegados de 173 países.