Computadores, educação e o vazio metodológico

As tecnologias hoje disponíveis permitem a interação, a não-linearidade, a cooperação, a diversidade da informação, a multiplicidade de estímulos. Mas será que estamos explorando estas potencialidades a fundo ou apenas usamos os computadores como se fossem livros didáticos eletrônicos, máquinas de mostrar slides e de fazer testes automatizados?

A crescente utilização dos computadores em situações de ensino/aprendizagem é, para os educadores, um fenômeno duplamente preocupante. Primeiro, a informatização de outros setores da vida social sugere que a escola informatizada será uma escola automatizada, na qual o profissional de educação participará pouco ou não estará presente. Segundo, o caráter cada vez mais centralizado do controle sobre os grandes meios de comunicação de massa faz supor que a escola será rapidamente incorporada a esse processo, acabando com qualquer sonho de autonomia e livre pensamento.

Não se pode negar que essas são questões fundamentais, antes políticas que técnicas, que precisam ser enfrentadas pelos profissionais de educação e pela sociedade. O que acontece, porém, é que a necessária reflexão sobre tais problemas muitas vezes impede que os educadores tomem a relação entre computadores e educação em todas as suas dimensões ? muitas das quais podem provocar mudanças profundas e positivas nas práticas que a tradição pedagógica construiu e engessou.

Talvez por isso a postura dos educadores com relação à introdução de computadores no dia a dia do ensino oscile entre o ?fascínio com as novas tecnologias e o temor do vazio metodológico? (Michel Tardy).

Daí a importância de programas de formação docente continuada e em sintonia com o mundo.

Infelizmente, o que mais vemos são cursos de formação de consumidores de produtos do maior fornecedor mundial de programas. Não passam de treinamentos operacionais e não contribuem para as mudanças que a escola tanto necessita. Mesmo com o movimento do software livre este quadro não se alterou significativamente.

O ?vazio metodológico? do qual nos falava o professor Tardy só pode ser preenchido pelo desenvolvimento de metodologias que estejam assentadas sobre bons fundamentos conceituais e, principalmente, sobre práticas pedagógicas inovadoras.

Novas metodologias implicam na transformação da relação professor/aluno. Formas instrutivistas, nas quais a transmissão de informações é o centro da ação pedagógica, não cabem mais em um mundo que oferta informações em demasia. Formas interativas, participativas, abertas e flexíveis de lidar com a informação, de contextualizá-la, de torná-la significativa, já são usadas pelos jovens que têm acesso a recursos digitais.

Se os professores olharem atentamente para as redes sociais surgidas na internet, poderão vislumbrar o território no qual terão de se aventurar, mais cedo ou mais tarde. O poder das redes ainda não foi percebido pelos educadores presos a formatos esclerosados, centrados no professor e em conteúdos pré-determinados.

A formação docente em tecnologias educacionais deve passar por esta discussão, sob pena de estar reforçando e não transformando as velhas práticas pedagógicas, somente para preencher o vazio metodológico que os assusta.

Antonio Simão Neto (simao@interfacesonline.com.br) é do Instituto Interfaces. 

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