Compra de votos

A compra de votos nas eleições de 2006 influenciou significativamente no resultado do pleito. O alerta feito pela organização não governamental (ONG) Transparência Brasil foi um pouco menos contundente. Diz que a compra de votos ?pode? ter. Por ser uma entidade de seriedade incontestada e incontestável, a Transparência foi cautelosa em seu veredito. É certo que esse vergonhoso procedimento influenciou bastante. Isso não só porque seus resultados foram parcialmente comprados, como porque introduziram maçãs podres no Congresso, em governos estaduais e assembléias legislativas, maculando todo o sistema e mantendo vivo o imenso potencial de corrupção que os poderes públicos podem usar. E já usaram repetidas vezes, notadamente nas gestões que agora foram renovadas. Ou bisadas.

A pesquisa encomendada pela ONG e outras entidades, entre elas a Unacom, representante dos servidores da CGU (Controladoria Geral da União) e da Secretaria Nacional do Tesouro Nacional, aponta que 8,3 milhões de eleitores brasileiros receberam ofertas de compra de votos. Quantos aceitaram não se revela, mesmo porque os corruptos, ativos e passivos, defendem-se com covarde silêncio ou negativa. Em 2002, no pleito anterior, o índice de compra de votos foi de 3,3%. Aliás, ao longo de todo o período até o mais recente pleito, sentiu-se forte o pestilento odor do que havia acontecido. Hoje, a podridão que está provada e comprovada ainda não se manifestou agindo no interesse dos adquirentes e contra os interesses públicos. Há no Congresso, com a eleição do petista paulista Arlindo Chinaglia para a presidência da Câmara (e de Lula para o comando da República), um discurso moralizador. É ver para crer. O diretor executivo da Transparência Brasil, Cláudio Abramo, considera os dados recolhidos preocupantes. O contingente de eleitores que foram instados a vender seus votos é maior do que a soma de todos os votos depositados nos Estados de Roraima, Amapá, Acre, Tocantins, Rondônia, Sergipe, Mato Grosso do Sul, Amazonas e no Distrito Federal. Oxalá não seja por isso que se apregoa com tanto entusiasmo que o comércio cresceu dentro do quadro de desenvolvimento desejado. Este é o comércio que não desejamos, embora esteja comprovado que o temos e que cresceu em ritmo acelerado, potencializando uma plantação vigorosa de maracutaias com os novos e maculados mandatos.

A notícia nos entristece em particular, pois foi revelado que o Paraná foi o estado com o maior número de incidência de compra de votos. A pesquisa revela que nada menos de 22% dos eleitores de nosso Estado receberam proposta neste sentido, o que significa 1,3 milhão de eleitores. A região Sul foi a de maior incidência dessa vergonhosa prática, com 12%. Foi seguida pelo Nordeste (10%), Sudeste (6%) e Norte/Centro-Oeste (5%). Tais percentuais parecem paradoxais. Seria de se esperar que esse tipo de corrupção fosse maior nas regiões mais pobres. ?A pesquisa demonstrou que o problema está se agravando e as evidências indicam que de forma catastrófica. A compra de votos está muito provavelmente influenciando as eleições brasileiras para qualquer cargo?, diz o presidente da ONG. Outro paradoxo é que não são os mais pobres que mais vendem seus votos. Nem os de menor instrução.

A esperança é que a maioria dos eleitores instados a vender tenha tido o pudor de rejeitar. Mas fica a triste conclusão de que há condescendência com a falta de ética na política brasileira.

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