Em coro quase unânime, companhias aéreas, deputados e sindicalistas pediram ontem, em audiência pública na Câmara dos Deputados, que a Força Aérea Brasileira (FAB) deixe o controle da aviação comercial no País. O diagnóstico geral é de que o governo é hoje um bom arrecadador de taxas de passageiros e companhias, mas mau investidor – não acompanha nem o ritmo do crescimento da demanda do setor.
Todos os participantes da audiência pública, que durou 6 horas, pediram ‘mudanças estruturais’. Isso, na prática, significa deixar os militares totalmente fora do negócio da aviação civil.
Diante da onda de comentários favoráveis à ‘desmilitarização’, o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno, afirmou que "não se opõe à medida, caso o presidente da República assim determine".
O primeiro a propor abertamente a desmilitarização foi o presidente do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea) Marco Antônio Bologna. O ministro Waldir Pires (Defesa) também deixou escapar sua preferência: "Eu sou pelo sistema integrado, mas com a aviação civil se administrando", disse.
Pires lembrou que a idéia está sendo discutida pelo grupo de trabalho criado em 16 de novembro para estudar soluções para a crise, mas, antes de entrar em vigor, terá de ser submetida ao Congresso. "Os debates estão avançados e não há nenhum tipo de limitação ou restrição." Uma das propostas citadas por Pires é a criação de um órgão civil, subordinado à Defesa, para cuidar exclusivamente do controle de vôos comerciais, como revelou o jornal O Estado de S. Paulo na edição de ontem.
Outro que criticou o atual modelo foi o presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores na Proteção ao Vôo, Jorge Botelho. "Precisamos de uma solução para a questão da carreira. Não queremos mais a rotatividade dos militares, que ficam dois anos no cargo e são remanejados para outros postos.
Deputados também cobraram soluções: "Precisamos definir que modelo de controle nós queremos: civil, militar ou continuaremos com o misto? Se optarmos pelo civil, a Aeronáutica terá de perder os anéis para não perder os dedos", disse Fernando Gabeira (PV-RJ). "Acho que não deve haver resistência da Aeronáutica. A duplicidade dos sistemas já está aí", disse o deputado Ivan Valente (PSOL-SP).
