Comitiva européia quer conhecer potencial da soja convencional do Paraná

Técnicos da Secretaria da Agricultura, do Departamento de Estudos Sócio-econômicos Rurais (Deser), representantes da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul (Fetraf-Sul/CUT) e a deputada estadual Luciana Rafagnin (PT) reuniram-se, nesta terça-feira, em Curitiba para discutir a possibilidade do Paraná ofertar soja convencional a países da União Européia.

Entre os dias 17 e 23 de outubro, uma comitiva européia vai visitar o Paraná para analisar o potencial de oferta de soja convencional. A delegação, formada de autoridades, empresários e dirigentes de cooperativas de 35 regiões européias livres de transgênicos, será liderada pelo vice-presidente do Conselho Regional da Bretanha, Pascale Loget, que já esteve no Paraná, onde firmou acordo com o governador Roberto Requião.

Segundo Loget, os europeus querem conhecer os mecanismos de produção e comercialização de soja não-transgênica do Paraná.

Os técnicos discutiram questões relacionadas à certificação da cadeia de soja pura, a rastreabilidade e a segregação. Entre os assuntos, foi questionado como garantir que o produtor paranaense continue a produzir soja convencional, já que foi liberado o plantio de soja transgênica no Brasil, sem critérios de biossegurança definidos.

O engenheiro agrônomo da Divisão de Defesa Sanitária Vegetal (DDSV), Marcelo Silva, responsável pela fiscalização de transgênicos no Paraná, afirmou que a vinda da comitiva européia demonstra a crescente rejeição no mercado mundial por produtos geneticamente modificados.

?É justamente para atender toda essa demanda que o Paraná defende a soja convencional?, lembrou. Segundo Silva, o Governo do Estado garante o fornecimento de sementes de soja convencional a todos aqueles produtores interessados em cultivar um produto livre de transgenia.

Mercado

De olho no mercado, o Governo do Paraná vai continuar incentivando o plantio de soja convencional. Em decorrência da liberação do plantio de soja transgênica no País há a tendência de que diminua a oferta de sementes convencionais. Assim, os preços pagos pelo produto não-transgênico tendem a subir. ?Por isso, o Estado oferece o insumo mais básico de toda a certificação da cadeia de soja pura: as sementes convencionais?, lembrou Silva.

Nesta safra, o Paraná garante a oferta de 4,2 milhões de sacas de 50 quilos de sementes de soja convencional. ?O suficiente para cultivar toda a área do Estado destinada à cultura?, disse o engenheiro agrônomo.

Produtividade

Tradicionalmente, no Rio Grande do Sul, a produção de sementes de soja convencional era de quatro milhões de sacas por ano. ?Hoje, não chega a 8% disso?, comentou. Silva lembrou que o produtor gaúcho acabou optando por plantar grãos de soja geneticamente modificada, contrabandeada da Argentina. ?As conseqüências são graves e traduzem a situação do segmento naquele Estado. Prova disso é a menor produtividade das lavouras gaúchas. Principalmente, quando comparada com as do Paraná?, afirmou.

Segundo levantamento da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), na safra 2004/05 a produtividade da soja gaúcha foi de 565 quilos por hectare. Já o Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria da Agricultura, informou que, na mesma safra, a produtividade do grão cultivado no Paraná foi de 2.300 quilos por hectare.

De acordo com a Primeira Estimativa de Plantio da Safra de Verão 2005/06, anunciada nesta segunda-feira pelo vice-governador e secretário da Agricultura, Orlando Pessuti, o Paraná pode produzir 12,13 milhões de toneladas de soja. Segundo Silva, para atingir a produção esperada é importante que o agricultor paranaense opte pela cultura convencional.

Prejuízos

Além de se ver obrigado a plantar grãos de soja transgênica, por não haver oferta suficiente de sementes de soja geneticamente modificada, o produtor que optar pelos transgênicos tem que estar preparado para a cobrança de royalties. ?É uma questão de dependência tecnológica de empresas estrangeiras que dominam a biotecnologia. Hoje, são cobrados R$ 0,88 por quilo de sementes transgênicas certificadas. Isto equivale ao um gasto de R$ 50,00 por hectare?, disse.

Além disso, o produtor que optar pelo uso de grão para a semeadura vai ficar obrigado a pagar uma taxa de 2% de sua produção pelo uso indevido da tecnologia. Silva destacou ainda que o uso de grão como semente, na Safra 2005/06, está proibido por lei.

Agricultura familiar

A defesa da soja convencional é reforçada pelos representantes da Agricultura Familiar. ?Defendemos um Paraná livre de transgênicos?, comentou o coordenador-adjunto da Fetraf-Sul, Marcos Rochinski.

Segundo ele, é necessário firmar uma parceira entre a Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar e o Governo do Estado para que seja criado um programa que incentive a produção de soja não-transgênica por parte dos agricultores familiares do Paraná. ?É uma questão social, econômica e política. A produção de soja convencional é mais uma alternativa para nossos agricultores?, disse.

Cerca de 80% da soja produzida no Paraná é proveniente de propriedades de agricultores familiares. ?Já que temos essa grande representatividade na produção, por que não termos uma maior participação na comercialização da soja convencional com outros países? Afinal de contas, somos nós, os pequenos produtores, que mais defendemos o cultivo da soja não-transgênica?, questionou.

Para Rochinski, com a visita da comitiva européia, cresce a perspectiva de exportar parte da produção de soja da agricultura familiar do Estado. ?Por isso, precisamos organizar melhor nossa produção. Assim, nossos agricultores familiares vão poder a soja pura que produzem?, afirmou.

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