O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, Mário Heringer (PDT-MG), vai se reunir amanhã, às 14h30, com os parlamentares da comissão disposto a retomar as análises dos arquivos sobre torturas praticadas no período da ditadura militar. A decisão foi tomada após a publicação de reportagem no domingo pelo jornal Correio Braziliense exibindo supostas fotos do jornalista Vladimir Herzog preso, antes de ser assassinado pela repressão.

?Vamos investigar todo o material de novo. A coisa foi reacesa e não pode ficar no esquecimento?, afirmou o deputado Mário Heringer. Segundo ele, as fotografias e os documentos obtidos pelo jornal foram entregues pelo cabo José Alves Firmino em 1997 à Comissão de Direitos Humanos. Firmino trabalhou como espião do Comando Militar do Planalto.

Na reunião de amanhã, Heringer vai solicitar uma perícia nas fotografias que estão com a Comissão. A viúva do jornalista, Clarice Herzog, o reconheceu nas fotografias. Apesar disso, o presidente da comissão quer comprovar a autenticidade das fotos. “Além de serem cópias, uma das fotografias aparenta ser de época diferente das outras duas”, afirma Heringer.

Os documentos originais entregues pelo cabo Firmino foram encaminhados pelo presidente da Comissão na época, Pedro Wilson (atual candidato à prefeitura de Goiânia), à biblioteca da Universidade de Brasília (UnB). No ofício, o então deputado considerava que a biblioteca seria ?o local ideal para se guardar documentos históricos e públicos?.

Mário Heringer quer saber ainda se houve resposta do governo federal à comissão quando, em 1997, cópias dos documentos entregues pelo cabo Firmino foram encaminhadas ao então presidente Fernando Henrique Cardoso, aos ministros do Exército, Zenildo Lucena, da Justiça, Íris Rezende, e ao secretário Nacional de Direitos Humanos, José Gregori.

Heringer também não descarta a possibilidade de convidar o atual secretário Nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, a esclarecer o caso na Comissão.

Para o atual presidente da Comissão, não será fácil reabrir os arquivos do governo federal sobre as torturas praticadas no período da ditadura. ?É difícil para um ministro civil (José Viegas, da Defesa) ter a força (de abrir as investigações) até porque tão pouco tempo se passou do regime militar?, afirmou Heringer.

A publicação das supostas fotos de Vladimir Herzog no cárcere mobilizaram também parentes de vítimas do regime militar. Iara Xavier Pereira e Criméia Almeida estiveram hoje com o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara para solicitar o acesso aos documentos entregues pelo cabo Firmino. Segundo Heringer, os documentos são públicos e estão abertos à pesquisa.

Quanto à reabertura das investigações dos arquivos do governo federal, tanto Criméia Almeida quanto Iara Xavier são céticas: ?tem que ser uma decisão de governo, do presidente Lula. Na questão da abertura dos arquivos sobre a guerrilha do Araguaia não tivemos qualquer avanço. Nossa expectativa é que isso tudo não vai dar em nada?.
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