Começa estudo sobre uso de célula-tronco em cardíacos

Rio (AE) – Anestesia local, dez minutos de duração e apenas um cirurgião. Simples e rápido, o procedimento, feito hoje no Instituto Nacional de Cardiologia de Laranjeiras (INCL), no Rio, pode salvar a vida de 200 mil brasileiros nos próximos três anos caso o maior estudo do mundo com células-tronco adultas para o tratamento de doenças do coração se prove eficaz. A estimativa é dos coordenadores da pesquisa, financiada pelo governo federal.

Hoje o ministro da Saúde, Humberto Costa, deixou clara a intenção de investir cada vez mais na área, incluindo testes com células-tronco de embriões humanos, inconstitucionais na visão do Procurador-Geral da República, Cláudio Fonteles.

A fase clínica do estudo começou hoje, simultaneamente, em três das 33 instituições envolvidas: Instituto do Coração (Incor), em São Paulo, Hospital Santa Izabel, em Salvador, e INCL. No Rio, a intervenção foi transmitida, em tempo real, para um telão no auditório da instituição, onde estavam Costa e o ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos.

O paciente, Luzimar Souza Quintanilha, de 44 anos, é portador de cardiomiopatia dilatada. Acordado, ele aparentava tranqüilidade enquanto o médico Paulo Sérgio de Oliveira, injetava uma substância dentro de um microcateter que ninguém, só o hematologista, sabe se continha células-tronco. O estudo é randomizado, ou seja, metade dos 1.200 voluntários vai receber placebo.

Embora cinco dos 14 pacientes em tratamento em estudo-piloto anterior tenham relatado melhora na qualidade de vida, a cardiologista Helena Martino, chefe do Departamento de Miocardiopatia do instituto, falou com cautela sobre a eficiência da terapia celular. "Já sabemos, pelo que encontramos que o procedimento é exequível e seguro. Precisamos investigar mais", observou.

Pelo SUS – O coordenador nacional da pesquisa, Antonio Carlos Campos de Carvalho, disse ser necessário, pelo menos mais um ano e meio obter resultados. Caso sejam satisfatórios, Humberto Costa anunciou que, em um prazo de três anos, o tratamento será ofertado pelo Sistema Único de Saúde.

Em 2003, segundo ele, o governo federal gastou na rede pública R$ 500 milhões em transplantes, internações, cirurgias e reinternações de pacientes com doenças do coração. Como dados preliminares indicaram uma melhora de 5% na capacidade de o coração tratado com células-tronco bombear sangue, capacidade que vai se perdendo em órgãos doentes, a confirmação da eficácia do procedimento vai resultar também em economia para os cofres públicos.

Lei de Biossegurança – Durante o lançamento da fase clínica do estudo, o ministro voltou a criticar a posição do Procurador-Geral da República, que deu entrada no Supremo Tribunal Federal (STF) em ação direta de inconstitucionalidade contra o artigo da Lei de Biossegurança que autoriza pesquisas com células-tronco embrionárias. Costa fez um apelo para que a sociedade e a comunidade científica façam pressão contra o que ele qualificou de retrocesso.

"Somos a favor das religiões e das convicções filosóficas, mas não podemos permitir que elas interfiram no avanço da saúde pública. Estamos vigilantes para que o STF não acolha a liminar do procurador. Seria um desserviço ao País", avaliou. Costa disse que há estudos com células embrionárias entre os 94 projetos de pesquisa que responderam ao edital lançado em conjunto pelos ministérios da Saúde e da Ciência e Tecnologia.

Durante o evento, Costa e Campos lançaram oito editais, no valor de R$ 25,4 milhões, para oito pesquisas em diversas áreas, entre as quais, hanseníase, saúde mental e dos povos indígenas, doença de Chagas, órteses e próteses.

No auditório estavam dois pacientes do INCL que já receberam terapia celular. Acompanhado dos pais e do filho de seis anos, Gerson Brasil Soares, de 26 anos, mostrou-se entusiasmado com os resultados. "Até fevereiro, quando recebi o transplante, só tinha plano funerário. Agora, tenho um plano de vida. E uma vida muito ativa. Não conseguia caminhar por causa da falta de ar. Hoje, quatro meses depois, subo lances de escada sem qualquer problema", contou.

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