O presidente Lula aproveitou uma das muitas cerimônias em que sua presença é exigida para, em poucas porém contundentes palavras, defender o combate à hipocrisia na luta contra a aids. Dessa vez, o presidente fez o combate do bem, embora seja certo que por sua franqueza vá receber críticas contundentes. ?Ao invés do Dia da Mulher deveria ter o dia de combate à hipocrisia que há em todos nós?, disse o presidente. Qualificou a sociedade brasileira como muito machista e que, no combate ao vírus HIV, é preciso não se levar em conta ?o que a família diz, o que a igreja diz?. Defendeu a distribuição gratuita de preservativos. ?Preservativo tem que ser doado e ensinado como usar?, sentenciou. Para ele, a gravidez precoce é a razão pela qual 30% das meninas com idades entre 15 e 17 anos estão fora da escola. E não poucas porque já são mães e outras, sem receberem nas salas de aulas ensinamentos sobre sexualidade, acabam engravidando e muitas adquirindo doenças venéreas, dentre elas a aids.
A melhor arma contra a hipocrisia é encararmos a verdade. Não diríamos que por hipocrisia a igreja se opõe à abordagem desses temas no seio das famílias, das escolas e a uma ação do governo em busca da prevenção e do combate a tão terríveis males. Talvez seja mais por conservadorismo, pois no seio da Igreja Católica surgiu a idéia de liberar o uso de preservativos por pessoas que sejam legal e religiosamente casadas. Também a insinuar que não se trata de hipocrisia e sim de teimosia sustentada pela tradição, vimos a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que se encontra em ação numa nova Campanha da Fraternidade, desta vez em defesa da Amazônia, declarar que não se manifestaria sobre as contundentes críticas de Lula.
Há pontos em que a igreja precisa acordar para as mudanças que ocorrem na humanidade, sob pena de perder cada vez mais fiéis.
O combate à aids e o ensino da sexualidade responsável, evitando a prematura ou indesejável gravidez, exige a ação do Estado e o fim da hipocrisia, notadamente no seio das famílias onde pais se negam a discutir o assunto com seus filhos. Isso está mudando e a tal ponto que um presidente de um País católico, como Lula, de público denuncia a hipocrisia do silêncio e não poupa nem a igreja. Nesta luta não está sozinho.
O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), que foi o candidato derrotado quando Lula reelegeu-se, anuncia a criação de um novo Saúde da Mulher que inclui medidas polêmicas de planejamento familiar. Prevê a distribuição de anticoncepcionais e das chamadas ?pílulas do dia seguinte?. O governo paulista também vai ampliar o programa de laqueaduras e vasectomias de vinte mil para quarenta mil por ano. As pílulas são distribuídas aos municípios em programa conjunto do governo de São Paulo e governo federal. O controle da natalidade, o combate à aids e outras doenças venéreas e a paternidade responsável começam a crescer por ação tanto do situacionismo quanto da oposição. Busca-se acabar com o principal obstáculo, corajosamente apontado por Lula: a hipocrisia.