O combate à fome é a prioridade das prioridades do governo Lula, que começa no primeiro dia de 2003. Prioridades são muitas, mas o primeiro pronunciamento do candidato eleito pela esmagadora maioria da população brasileira foi ocasião para revelar o que, em seus objetivos, é o essencialíssimo, não excluídas as demais urgências, mas postergado o seu atendimento. Isso porque Lula agora sabe e, como futuro presidente, sente que os recursos disponíveis são e serão escassos e os constrangimentos impeditivos de um pronto atendimento das demandas existem e permanecerão ainda por muito tempo.

O caminho começa ao caminhar, sentenciava o líder guerrilheiro Che Guevara. E Lula, desde a primeira hora de seu governo, vai dar os primeiros passos nos muitos projetos que ele e seu grupo têm para procurar dar ao Brasil uma feição de país democrático não só politicamente, mas também e principalmente econômica e socialmente. Como anunciou, irá desde logo buscar um pacto nacional, arregimentando forças diversas, mesmo na composição de sua equipe e para conseguir as mudanças que apregoa e que transformariam o Brasil num país justo, sem excluídos, integrado na globalização de forma soberana e ocupando, na comunidade internacional, um papel preponderante e merecido.

Enumerando seus projetos, pouco diferiu do que sempre pregou o atual presidente Fernando Henrique Cardoso, a quem elogiou pela condução serena da sucessão presidencial. Poder-se-ia dizer que Lula ainda terá tempo para cumprir o prometido, enquanto FHC, ao final de seu longo mandato, o máximo que pode dizer é que obteve avanços, sem dúvida insuficientes e incapazes de satisfazer a população. Tanto é que não elegeu seu sucessor, José Serra.

Lula mostrou-se equilibrado, melhor informado sobre as verdadeiras condições do Brasil e reafirmou os compromissos assumidos durante a campanha, para tentar acalmar o nervoso mercado financeiro. A grande mudança que promete é enfatizar o social sobre o financeiro e o econômico, buscando a geração de empregos, a igualdade, a absorção dos excluídos e, com todo o empenho, acabando com a fome no Brasil. Aplacar a fome de milhões de brasileiros já será uma conquista capaz de justificar seu governo. Para ele, justificar a luta de toda a sua vida. Foi um discurso correto, irrepreensível, desde que não o comparemos com outros que fez ao longo de sua vida sindical e política, no passado. Passado, aliás, bastante recente. Tudo indica que, de fato, Lula amadureceu. Como disse o presidente do PT, deputado José Dirceu, a disputa eleitoral com Serra fez com que o candidato situacionista ajudasse Lula e seus aliados a entender melhor a verdadeira situação do País. Cumprirá os compromissos assumidos pelo Brasil, sem moratórias, rompimento de contratos, desleixo no ajuste fiscal, mudanças heterodoxas na política cambial e outros sustos que eram temidos pelo mercado.

Está, pois, tudo azul no horizonte de Lula? Infelizmente, não. Podem atrapalhar seus desideratos a própria extrema-esquerda à qual pertenceu e sempre o apoiou. E as forças conservadoras e de direita, às quais sempre combateu e por ele foram vencidas nestas eleições.

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