Aproximadamente 852 milhões de pessoas passam fome no mundo – 18 milhões a mais que nos anos 90 – segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO). Deste total, 815 milhões vivem nos países em desenvolvimento. Para discutir esta questão, trocar experiências e fortalecer alianças no combate ao problema (fome), autoridades e especialistas de toda a América Latina reúnem-se a partir de amanhã (11), na Cidade da Guatemala (Guatemala), na Conferência Latino-Americana sobre a Fome no Marco das Metas do Milênio. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa do encerramento da Conferência. Também está prevista a presença do ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias. Na segunda-feira (12), último dia dos debates, o diretor do Departamento de Sistemas Descentralizados, do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Crispim Moreira,apresentará as experiências bem-sucedidas do Brasil no combate à fome.
Em entrevista à Agência Brasil , o cordenador-gral de Ações Internacionais de Combate à Fome, do Ministério das Relações Exteriores, conselheiro Milton Rondó Filho, revelou que há grande interesse dos países latino-americanos nas experiências brasileiras de estímulo à agricultura familiar, como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, que visa a incentivar a produção de alimentos pela agricultura familiar, a partir de compra, sem licitação, de produtos para distribuição a pessoas em situação de insegurança alimentar.
"Eles (países latino-americanos) têm muito interesse, também, no modelo que adotamos de democracia participativa neste campo", afirma o conselheiro. Como exemplo, cita o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), órgão destinado à formulação de políticas públicas e diretrizes para a política nacional de segurança alimentar e nutricional do governo federal. "Num tema como este, só é possível evoluir se houver um engajamento muito profundo da sociedade civil", avalia Rondó Filho.
O conselheiro destaca o papel de protagonista do Brasil na questão de segurança alimentar ? tanto no âmbito da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) quanto bilateralmente, com outros países latino-americanos. "O interesse maior destes países tem sido numa concepção que foi brasileira e que hoje já é adotada pela quase totalidade dos países, que é a dupla tração na questão da segurança alimentar: a dimensão emergencial aliada à questão estrutural. O Brasil, enquanto pioneiro nesta visão, tem muita coisa para levar", afirma.
Milton Rondó Filho lembra que o Brasil sediará, em março de 2006, a Conferência Internacional de Reforma Agrária da FAO ? a última conferência do gênero ocorreu em 1979. "A Reforma Agrária é um aspecto estrutural importante da estratégia brasileira de segurança alimentar", destaca.
A Declaração do Milênio, aprovada por chefes de estado e de governo de 18 países no ano 2000 estabeleceu como uma das metas a redução, pela metade, do número de pessoas que sofrem de fome e desnutrição entre 1990 e 2015. Os progressos alcançados até agora nos Objetivos do Milênio serão analisados em Reunião Plenária de Alto Nível convocada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para o período de 14 a 16 de setembro, em Nova Iorque (EUA).