A corrupção no Brasil aumentou ou esse tsunami de escândalos é resultado de uma maior atividade investigativa da Polícia Federal e do Ministério Público? Todos os dias aparecem novas operações da PF, com prisões e execução de mandados de busca e apreensão. E são presos funcionários do governo, autoridades de segundo escalão, servidores de estatais e gente da iniciativa privada. Grupos que comiam do mesmo pote e se lambuzavam com o dinheiro do povo.
Isso leva à impressão de que nunca se roubou tanto neste País. Do governo, onde sem dúvida há focos de corrupção, surge a tese de defesa que argumenta que a onda de denúncias resulta de um maior empenho das próprias autoridades em descobrir as maracutaias. Elas já existiriam nos governos passados e insinuam que em volume até maior. Só que não havia a preocupação de pôr os ladrões do dinheiro público na cadeia. Agora há, se bem que praticamente ninguém, até agora, foi condenado e cumpre pena.
O Banco Mundial (Bird) acaba de colocar o bedelho nessa questão. Divulgou o seu relatório anual de governança, revelando que o nível de corrupção no Brasil é hoje o pior em dez anos. De acordo com o levantamento daquela instituição internacional, o País está em nível inferior ao que se encontrava quando ele, o Banco Mundial, começou a fazer esse tipo de estudo, em 1996. O relatório sustenta que entre 1998 e 2000, período do segundo mandato de FHC, e 2002 e 2003, primeiro mandato de Lula, foram observadas melhoras. A corrupção diminuiu ou foi contida. Mas essa vantagem foi anulada nos três últimos anos. Nesse período a corrupção cresceu, adubada não se sabe por que estrume. O fenômeno poderia ser resultado da constatação de que havia muito melado no pote. E quem nunca comeu melado, quando come se lambuza. Houve pouca vigilância ou vontade política de combater a roubalheira. Ou ela foi alimentada pelo surgimento do conceito de que, em regimes de esquerda, o que é público e o que é privado são ingredientes da mesma sopa.
O estudo do Bird classifica 212 países e territórios de acordo com o desempenho em seis itens, levando em conta dados fornecidos por 33 fontes internacionais. No levantamento referente ao Brasil foram ouvidas 18 entidades, entre elas o Latinobarómetro, do Chile, a consultoria britânica Economist Intelligence Unit e o instituto de pesquisas norte-americano Gallup. Das seis categorias – controle de corrupção; capacidade de ser ouvido e prestação de contas; eficiência administrativa; qualidade regulatória; estado de direito, e estabilidade política e ausência de violência -, o Brasil só melhorou na última, no período 2005/2006, em cotejo com o período anterior. Observe-se que as categorias não se limitam à corrupção. Elas fazem um diagnóstico bem mais amplo do país necropsiado.
O governo não concorda com o diagnóstico. Consultado pela ONG Contas Abertas, o ministro-chefe da Controladoria Geral da União (CGU), Jorge Hage, criticou a pesquisa. Ressaltou que ela ?não mede o combate, e sim reflete apenas percepções sobre os fatos que são revelados sobre o crime. E isso tem realmente aumentado no Brasil a partir do momento em que se passou a investigar e revelar atos corruptos que sempre existiram?. Ressalta que nem o Banco Mundial adota os resultados da pesquisa como indicações para sua interação, como instituição financeira internacional, com o Brasil.
Os argumentos da CGU são os mesmos que o governo tem apresentado sempre que surge um novo escândalo de corrupção envolvendo a administração pública. Conclui-se de forma risível que, nessa disputa entre a tese de que a corrupção aumentou; ou o que aumentou foi o combate do governo às negociatas, o que há é um empate.
