Brasília – O Dia Internacional da Luta Camponesa foi marcado, no Brasil, por ações do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e outros exigindo agilidade do governo federal e Poder Judiciário na reforma agrária. A data foi escolhida para lembrar o massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido há onze anos. Na ocasião, 19 agricultores foram mortos e 69 ficaram feridos em um confronto com a polícia na região, que fica ao sul do Pará (PA).
No Pará, várias reivindicações foram entregues à governadora do estado, Ana Júlia Carepa. O Diário Oficial do Pará publicou decreto que prevê o pagamento de pensões vitalícias e de indenizações aos sobreviventes do massacre, além de assistência médica por tempo indeterminado. Inicialmente 20 sobreviventes do conflito devem ser beneficiados. A pensão poderá variar de um salário mínimo a um salário e meio (R$ 380 a R$ 570, nos valores atuais).
Dois policiais foram condenados pelas mortes em Eldorado dos Carajás, mas estão em liberdade. Para denunciar a impunidade, no Rio de Janeiro, aproximadamente 100 trabalhadores rurais fecharam, durante uma hora, trecho da Rodovia Presidente Dutra. No Paraná, 25 praças de pedágio foram ocupadas por cerca de 3 mil trabalhadores. Além de cobrar punição, o estado teve outro alvo: mostrar que a privatização das rodovias federais encarecem a distribuição dos produtos agrícolas, um entrave à pequena agricultura.
Nos demais estados, as manifestações tiveram caráter local. No Maranhão, mil pessoas ocuparam a ponte sobre o Rio Tocantins, no município de Estreito, em protesto contra a instalação da Usina Hidrelétrica de Estreito. Segundo o MST, com a usina, 8 mil pessoas serão desalojadas.
Em Pernambuco, mais de 200 famílias ocuparam duas fazendas. Uma delas de propriedade do deputado estadual Ricardo Teobaldo (PMDB-PE). Em Goiás, outras três fazendas foram ocupadas por mais de 600 famílias. Na Paraíba, cerca de 600 famílias protestaram contra a monocultura no estado. Uma vigília, com a participação de aproximadamente 200 pessoas, marcou o protesto no Mato Grosso. Na Bahia, mais de 5 mil trabalhadores estão acampados em uma estação de metrô no centro da cidade. O balanço dos protestos do MST em todo o país foi divulgado pela assessoria de comunicação do movimento.
Uma carta, protocolada no Palácio do Planalto, apresentou as reivindicações dos movimentos sociais. No texto, o MST afirma que "pouco ou nada foi feito para uma verdadeira reforma agrária" no país. O movimento afirma que faz um pedido semelhante ao que foi atendido aos agroexportadores. Segundo a nota, o agronegócio recebe "vultuosos" investimentos em crédito dos bancos públicos e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Eles pedem maior liberação de crédito para a reforma agrária, agilidade na desapropriação de fazendas e assistência técnica nos assentamentos. Também em Brasília, 800 trabalhadores ocuparam o prédio do do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
A Comissão Pastoral da Terra (CPT) divulgou documento em que denuncia a continuidade da violência na reforma agrária. Segundo o balanço, no ano passado, foram registradas 72 tentativas de assassinato, um aumento de 176,92% em relação a 2005 (26 casos).