Com medo do tráfico, médicos fecham emergência no Rio

Rio, (AE) – Mesmo com a garantia de policiamento reforçado, médicos da emergência do Instituto Estadual de Infectologia São Sebastião, no Caju, zona norte do Rio, decidiram hoje manter o setor fechado. Referência no tratamento de doenças infecto-contagiosas, o hospital fechou a emergência na sexta-feira (12), porque os profissionais temem que traficantes da região cumpram ameaças de agressão.

Os criminosos exigiam atendimento imediato para qualquer tipo de caso. O hospital, que é cercado por 15 favelas, é especializado em atendimentos a pacientes com aids, meningite e tuberculose e não tem profissionais nem estrutura para outros tipos de emergência.

O setor de emergência faz 30 atendimentos por dia em média e tem 40 médicos em esquema de rodízio. Há 35 pacientes internados no instituto, que é o único hospital do bairro.

A situação chegou ao limite na semana passada, quando um médico foi agredido por duas mulheres supostamente vindas de uma das favelas próximas. "Há relatos de médicos que foram coagidos a atender pacientes baleados em confrontos com a polícia ou que chegavam com outros sintomas. Mas existem casos que não devem ser tratados nesse hospital", disse Jorge Darze, presidente do Sindicato dos Médicos do Rio.

Por três horas, ele se reuniu no hospital com médicos, representantes da Secretaria Estadual de Segurança Pública, da Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa do Rio (Alerj) e da Secretaria Estadual de Saúde para debater o caso. Em assembléia hoje à tarde, os funcionários da emergência decidiram manter a paralisação.

A decisão foi tomada pouco depois de o subsecretário de Integração Operacional da Secretaria de Segurança, Paulo Souto, anunciar o plano para a região. Segundo ele, será montado um corredor de segurança nas ruas de acesso do bairro até a entrada do hospital, com a presença de policiais militares. Quatro PMs ficarão no portão principal, na Rua Carlos Seidl, durante 24 horas. "Nossa presença será constante. Apresentamos um plano de segurança física para o hospital, que é uma referência", informou Souto.

Mesmo com o policiamento o dia todo na porta, ainda há médicos com medo. "Eu nunca fui ameaçado, mas sei que bandidos entram aqui. O clima é de insegurança", declarou o pneumologista Sérgio Neves, que trabalha há um ano no ambulatório.

Na segunda-feira, haverá nova reunião para decidir pela abertura ou não da emergência. Enquanto isso, segundo Jorge Darze, os pacientes devem procurar outras unidades, até porque o Instituto São Sebastião apresenta mais problemas. "Há falta de tomógrafos, de material de laboratório e o prédio está caindo aos pedaços."

Passagem – A fragilidade na segurança do hospital contribui para a entrada dos traficantes. Por isso, outra promessa da Secretaria de Segurança Pública foi fechar um acesso que fica nos fundos, onde não há portão.

Por ali, moradores de favelas passam tranqüilamente, transformando as dependências do instituto em atalho. Como não há guardas armados, a invasão ocorre sem problemas.

Pacientes e médicos convivem diariamente com pessoas cruzando o local de bicicleta e até com cachorros. Na hora do almoço, o problema se agrava com a grande movimentação de estudantes de escolas públicas. A dona de casa Ana Cristina Olegário, de 23 anos, admite optar pelo caminho mais curto. "Em vez de dar a volta pela rua, passo por aqui. É mais perto para pegar minha filha na escola", contou ela. Seu atalho deve acabar.

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