A nomeação da ministra Dilma Rousseff para a Casa Civil pode significar o adiamento definitivo das obras da usina nuclear Angra 3. Com o afastamento de José Dirceu, perde força a idéia de ressuscitar o projeto – lançado oficialmente pelo ministro de Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos. No governo, Dirceu era o mais poderoso defensor da proposta.
Dilma e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, eram contra a retomada de Angra 3 e trabalhavam para derrotar a idéia no Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). Mas em abril as duas foram surpreendidas pelo anúncio da posição de Dirceu, que deixou dividido o conselho, onde o assunto é discutido por seus nove integrantes com direito a voto.
Dilma e Marina defendem a tese de que Angra 3 não é prioridade, tanto do ponto de vista econômico quanto energético e ambiental. Já Eduardo Campos acredita que a usina é um projeto estratégico para o programa nuclear brasileiro. Ele acha que não há motivo para perder o investimento de US$ 780 milhões feito na usina. A previsão é de que ainda serão necessários US$ 1,8 bilhão para concluir as obras.
Os Ministérios da Fazenda, do Planejamento, e do Desenvolvimento ainda não se manifestaram sobre o tema. Também têm voto no CNPE o secretário de Energia de São Paulo, Mauro Arce, representando Estados e municípios, e o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Jérson Kelman, representando as universidades. Ambos devem acompanhar a posição de Dilma.
Na prática, Dilma terá voto duplo no conselho: um pelo Ministério de Minas e Energia, já manifestado, e outro pela Casa Civil. Ainda não está marcada a data do próximo encontro do CNPE – que voltaria a se reunir quando Dirceu devolvesse o processo, apresentando seu voto.
Em outro embate, na área ambiental, Dilma também ganha força ao assumir a Casa Civil. Até o fim do ano o governo deve realizar o primeiro leilão de energia nova. Antes, porém, é necessário conseguir a licença ambiental para a construção de 17 usinas hidrelétricas que vão produzir essa energia, a ser entregue a partir de 2009. A previsão é de que as licenças ambientais sejam liberadas até agosto, o que depende de negociação com o Ministério do Meio Ambiente.
Na área de regulação, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) não representou um desafio duro para a ministra. Dilma colocou na direção do órgão regulador Jerson Kelman, com quem mantém uma boa convivência, sem divergências aparentes. O novo modelo do setor elétrico também colaborou para concentrar no Ministério de Minas e Energia o controle das concessões. O poder de outorgar as licenças e de assinar os contratos foi transferido da Aneel para o Ministério.
No caso da presidência da Agência Nacional do Petróleo (ANP), a disputa se dará no plenário do Senado. O nome indicado por Dilma, do engenheiro José Fantine, foi derrotado na Comissão de Infra-Estrutura do Senado, mas o governo já disse que vai insistir na indicação e trabalhar para que Fantine seja aprovado no Plenário. Será um teste para a coordenação política de Dilma.