A elevação dos juros anunciada hoje pelo Banco Central pode desacelerar ainda mais os negócios na indústria e no comércio, fazendo com que o Natal de 2002 seja um dos piores do Plano Real. Além de inibir as encomendas e a produção para as festas, os juros mais altos devem encarecer o crediário, restringindo as opções de compra do consumidor.
Para a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a eficácia da medida é duvidosa. “Lamentamos a decisão do Banco Central”, disse o presidente da Fiesp, Horacio Lafer Piva, em nota divulgada hoje. “O aumento da taxa de juros, somado ao pacote de medidas anunciado na última sexta-feira, representa pesado ônus para a atividade produtiva e tem eficácia questionável para conter a piora das expectativas de inflação e para debelar a atual crise de credibilidade.” Para Piva, “não se combate crise de confiança com política monetária”.
O diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Sérgio Gomes de Almeida observou que a demanda por crédito já estava muito baixa e as taxas de juros, muito altas, ao ressaltar que a decisão do BC deverá esfriar ainda mais a atividade econômica.
“A atividade indústrial, que já vinha rastejando, agora corre o risco de encalhar de vez”, disse o vice-presidente da Fiesp, Roberto Nicolau Jeha. O resultado, segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Flexíveis (Abief), Sérgio Haberfeld, é que o Natal deste ano deverá ser fraco.
Na avaliação do diretor do Departamento de Competitividade da Fiesp, Mário Bernardini, o cenário tende a se complicar porque o impacto da alta dos juros eleva a dívida interna e compromete o esforço de obtenção de superávit fiscal. Para ele, não está havendo uma corrida de pessoas físicas ao dólar, já que este movimento exerceria pressão sobre o mercado paralelo de câmbio, que hoje estava abaixo do oficial. “O que há são empresas buscando dólares para pagar dívidas e bancos especulando fortemente com o câmbio. E essa turma não vai deixar de especular ou honrar seus compromissos só porque os juros aumentaram três pontos porcentuais.”