"O povo francês escolheu a mudança." Assim o direitista Nicolas Sarkozy festejou hoje a sua vitória sobre a socialista Ségolène Royal, no segundo turno da eleição presidencial. Favorito em todas as pesquisas, Sarkozy, de 51 anos, obteve 53% dos votos válidos, e Ségolène os restantes 47%. Assim como no primeiro turno, os franceses compareceram em massa às urnas: 84%, um índice próximo dos recordes históricos de participação.
"Quero reabilitar o trabalho, a moral e o respeito", anunciou Sarkozy, num discurso de apenas 9 minutos, que ele leu para milhares de eleitores, num palco montado na Praça da Concórdia. "Vou recolocar a nação e a identidade nacional em primeiro lugar", prometeu o ex-ministro do Interior no atual governo, repetindo as idéias-chave de sua campanha.
Considerado pró-americano, Sarkozy mandou uma mensagem eloqüente para o governo dos Estados Unidos, em favor de sua adesão ao Protocolo de Kyoto, pela redução de gases do efeito estufa. "Podem contar com nossa amizade. A França está sempre ao seu lado quando precisarem dela. Mas como amigos que pensam diferente", disse ele, para advertir: "A grande nação dos EUA não podem impor obstáculo ao combate ao aquecimento global. Está em jogo o destino da humanidade inteira. E a França fará desse o seu combate." Depois de uma campanha em que estiveram praticamente ausentes temas de política externa, eles dominaram o breve discurso da vitória de Sarkozy. "Toda minha vida fui europeu, creio profunda e sinceramente na construção européia", disse o presidente eleito. "Mas exorto nossos parceiros europeus a não ficarem surdos à cólera do povo que percebe a União Européia não como proteção, mas como cavalo de Tróia."
Conhecido por sua posição em favor da restrição à imigração, Sarkozy prometeu ajudar a África – subentende-se, para evitar que seus povos tenham de buscar uma vida melhor na Europa. "Faço um apelo por uma união do Mediterrâneo, entre a Europa e a África, um apelo fraternal a todos os africanos. Queremos ajudar a África", disse ele. "Vamos decidir juntos uma política de imigração controlada e uma política de desenvolvimento ambiciosa." O presidente eleito assumiu também um tom conciliador em relação a Ségolène, que o acusou de "imoralidade política" num debate na quarta-feira. "Tenho respeito por Madame Royal e por suas idéias", declarou ele. "Para além das diferenças de opinião, para mim só existe uma França", disse Sarkozy, cujo slogan de campanha foi "juntos, tudo se torna possível".
Sarkozy saiu depois de carro pelas ruas de Paris, sentado no banco de trás com sua mulher Cécilia, com o vidro aberto, saudando os eleitores, num gesto que lembrou o do presidente Jacques Chirac, eleito em 1995 e em 2002. Depois de duas horas e meia de passeio, voltou à Concórdia, onde a festa prosseguia, com artistas que o apoiaram na campanha, incluindo o ator Gérard Depardieu. Num discurso improvisado de apenas 5 minutos, Sarkozy pediu "tolerância e fraternidade", disse que "não haverá mais direito sem a contrapartida de um dever", e agradeceu: "A França me deu tudo." Em seguida, cantaram a Marselhesa, o hino nacional da França.
Ségolène apareceu diante de seus simpatizantes no comitê socialista logo depois do primeiro discurso de Sarkozy. Foi sucinta. "Alguma coisa nasceu, que não se deterá mais", disse ela, no seu estilo poético. O ex-ministro socialista da Economia Dominique Strauss-Kahn, que disputou com ela a candidatura do partido, e defende a adoção de idéias mais liberais, foi mais preciso: "A culpa é do Partido Socialista, que não soube se reformar.