O senador Fernando Collor (PTB-AL), que vai hoje à tribuna para tentar desconstruir o processo de impeachment de seu governo, reconheceu que, em sua passagem na Presidência, errou em pelos três momentos: ao confiscar o dinheiro da poupança dos brasileiros, ao entrar em confronto com o Congresso e ao optar em morar na Casa da Dinda, e não na Granja do Torto – já que à época o Palácio da Alvorada se encontrava em reforma. Nesse caso segundo o ex-presidente, o erro teria sido involuntário – não haveria outra opção.

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Foram necessários que se passassem 17 anos para que Collor se penitenciasse dos erros. Ele afirmou que, fosse um pouco mais velho e experiente, teria adotado uma estratégia menos açodada e buscaria com o Congresso uma relação harmoniosa. Durante seu governo, ele não conseguiu fazer os presidentes da Câmara e do Senado e sofreu forte oposição por parte do maior partido do Congresso na época, o PMDB. Ao invés de tentar o diálogo, optou pelo enfrentamento.

?Eu errei muito. Até porque não dei ao Congresso a consideração que ele merece, sobretudo, porque o regime era presidencialista, em que o presidente da República, que é o líder da nação, tem de ter, necessariamente, uma convivência harmônica, pacífica e independente com o Congresso. O tempo que eu dediquei a conversar com a classe política, prestigiá-la, foi muito pouco?, admitiu.

Outro erro relacionado em seu mea-culpa foi o confisco dos depósitos bancários dos brasileiros, provocado pelo traumático Plano Collor. Na tentativa de congelar os preços e acabar com a inflação, instituiu uma nova moeda e tungou a poupança de quem tinha mais de 50 mil cruzeiros no banco. Mais velho, com rugas visíveis no rosto, Collor não tem dúvidas de que a manobra monetária foi um erro juvenil.

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?Foi um erro, um excesso de voluntarismo. Foi vontade de resolver as questões todas de uma vez só. Naquele momento e nas circunstâncias em que vivíamos o confisco se justificava do ponto de vista econômico, já que precisávamos de uma freada no aumento dos preços e na inflação, que andava na casa dos 90% ao mês. Faltou mais experiência para alguém que chegou à Presidência com 40 anos recém-feitos.

Collor concordou com a tese de que a escolha da Casa da Dinda para morar o deixou exposto e acabou sendo decisiva em seu processo de impeachment. Ali, os fotógrafos flagraram a saída do Fiat Elba, comprado pelo ex-caixa de campanha Paulo César Farias o PC. O veículo tornou-se, para os congressistas da CPI do Esquema PC, o elo entre o ex-presidente e o esquema de cobrança de propinas montado pelo ex-tesoureiro. ?A questão da Casa da Dinda não foi uma opção, mas sim uma contingência. O Palácio da Alvorada entrou em reforma imediatamente depois de eu assumir. Eu não me adaptei muito bem à Granja do Torto.

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Ainda assim, ele agora voltou a morar na Casa da Dinda, à espera de que o Senado libere um apartamento funcional. E contou o que sentiu: ?Entrei e as coisas passaram como um filme na minha cabeça?, disse.

Hoje, na tribuna, ele pretende desmontar juridicamente o processo de impeachment. Entre outras coisas, vai argumentar que não poderia ter sido impedido por que a lei que instituía o processo de afastamento não estava regulamentada. ?Foi usada uma lei de 1946 para o meu processo porque a Constituição era omissa em relação ao impeachment. Em linhas gerais, meu pronunciamento não terá nada de subjetivo. Será objetivo e factual. Vou relatar o processo e dividir em quatro blocos: as investigações na CPI mista, depois na Câmara, no Senado e, por fim, a decisão do Supremo Tribunal Federal. Meu pai dizia que quem não sabe virar a página não merece ler o livro. Isso já passou?, disse. E é nessa virada que o senador está apostando seu futuro político.

No Congresso, Collor reproduz sua ?pequena Presidência?. Ali, tem dois seguranças pessoais, um general que faz as vezes de chefe da Casa Militar, um ministro de carreira do Itamaraty, além de assessores do próprio Senado. Collor não perdeu a majestade nem o séquito.

Já sublimou os rancores provocados pelo impeachment até mesmo contra o PT, partido que desempenhou papel decisivo no seu afastamento. Na verdade, Collor já diagnosticou que Lula, com o Bolsa-Família, passou a ser querido nos grotões e abocanhou os votos dos descamisados, seus antigos eleitores. ?Se eu batesse no Lula, estaria contrariando parcela do meu eleitorado. Mas estou apoiando Lula porque tenho convicção de que está realizando um bom governo. Os números da economia e da área social falam por si. O presidente Lula tem apoio da parcela mais sofrida da população e tem também o apoio e respeito das elites, apoio este que eu não tive durante meu governo.