Coisas miúdas

São coisas pequenas mas de grande significado moral essas que passaram a ocupar o proscênio dos debates políticos da atualidade. Que significa para o orçamento da União uma passagem de avião ou a bagatela de setenta mil reais? Nada. E tudo.

Os setenta mil reais significam a importância paga pelo Banco do Brasil em convites para funcionários graduados seus assistirem ao show de dois cantores engajados na luta pela arrecadação de fundos para a compra da nova sede do Partido dos Trabalhadores em São Paulo. A passagem de avião foi paga pelo Ministério do Meio Ambiente ao líder do Movimento dos Sem Terra – MST, João Pedro Stédile, para ir até Ilhéus, na Bahia, dar palestra a estudantes de Agronomia.

O Estado gasta muito mais em muitas outras coisas. Algumas delas em coisas fúteis. E os contribuintes sequer ficam sabendo. São os tais ralos a que se referia o então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, na antevéspera do lançamento do Plano Real, há mais de dez anos. Pelos ralos somem montanhas de dinheiro que, depois, fazem falta na realização de obras e serviços reclamados pela população.

O dinheiro gasto pelo Banco do Brasil (dizem) foi devolvido aos cofres da instituição depois da denúncia realizada. Seu presidente, Cássio Casseb, num primeiro momento mandou dizer que não sabia da natureza do show, mas, vendo que a desculpa não colava, assumiu publicamente o erro, mesmo compartilhando-o com o comitê de marketing. Não fosse a denúncia, o rombo seria maior: a dupla sertaneja reivindicava patrocínio de cinco milhões de reais para uma turnê pelo Brasil que, naturalmente, acabou sendo negada após o escândalo. Qual o banco privado que patrocina shows a seus funcionários de forma tão pródiga assim?

Cometeram crime o PT, por aceitar, e o BB por patrocinar, segundo o presidente do PFL, Jorge Bornhausen. O Banco do Brasil é uma empresa de companhia mista e não pode ficar patrocinando eventos partidários. Bornhausen pede ao Tribunal Superior Eleitoral que suspenda os repasses do Fundo Partidário ao PT por um ano. Além disso, quer a saída de Casseb, também envolvido com a sonegação fiscal que crispa a reputação de outros condestáveis, como o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. No caso da sonegação, não são coisas tão pequenas.

A outra coisa miúda que incomoda a República no momento é a passagem paga pelo ministério de Marina Silva ao líder do MST. Descobre-se agora que, além de repassar dinheiro ao movimento para coisas que pouco ou nada têm a ver com a reforma agrária e custeio de assentamentos, o governo do PT é capaz de financiar o ir e vir de líderes cuja luta é o desafio constante da ordem constituída.

Em nota oficial, o ministério disse achar normal a liberação dessa verba para financiar a viagem de Stédile que, além de tudo, quer o reembolso de um trecho não coberto pelo bilhete. A nota diz que quando “há condições legais e financeiras” o ministério tem apoiado promoções de terceiros. Que apoiou o evento dos estudantes de Agronomia por se tratar de uma iniciativa ligada à área ambiental e que o convite a Stédile partiu dos estudantes…

Ora, que tem a ver o líder do MST com meio ambiente? Normalmente seus liderados desprezam questões ambientais, matam gado, ateiam fogo na buva, destroem eucaliptais e outras plantas, incluindo alimentos que dariam um bom reforço ao Fome Zero. Só porque o movimento assumiu posição contra a soja transgênica não quer dizer que seus adeptos estejam preocupados com o meio ambiente. Ali, o debate é mais ideológico de tudo quanto parece.

Stédile pode estar apenas fundando outro movimento, o dos sem passagem aérea – SPA. É preciso parar sua escalada antes que ele decrete nos ares outro abril vermelho.

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