As famílias que moram na Vila Savana, uma área de ocupação irregular localizada no bairro do Guabirotuba, estão sendo cadastradas pelo serviço social da Cohab. O trabalho é o primeiro passo para a realização de urbanização e regularização da área, que será desenvolvido com recursos do município e do governo federal.
A proposta de atuação na Vila Savana prevê a intervenção simultânea em outra área próxima, a Vila Lorena, no Uberaba. As duas ocupações apresentam adensamento excessivo, falta de saneamento, precárias condições de salubridade, população com baixa escolaridade e baixíssimo nível de renda. A atividade predominante entre os chefes de domicílio é a coleta de material reciclável e, por isso, há um grande número de construções que servem ao mesmo tempo como residência e como depósito, com o acúmulo de muito lixo nos quintais e nas ruas.
O cadastro das famílias é feito com o objetivo de traçar um perfil sócio-econômico da população, com entrevistas feitas de casa em casa pelas assistentes sociais. O trabalho permite também delimitar a área de atuação do projeto, já que todas as casas são numeradas. Com o apoio de engenheiros e arquitetos, é feito o mapeamento da ocupação.
A coleta de informações para o cadastro vai se estender até o final desta semana e, a partir de segunda-feira próxima, os dados serão tabulados. Cada entrevista dura cerca de meia hora, com a aplicação de um questionário que inclui informações sobre composição familiar, escolaridade, renda, ocupação do chefe de família, utilização dos equipamentos públicos da vizinhança, gastos com transporte, alimentação e saúde, inclusão em programas sociais dos governos municipal e federal.
Bom sinal
Para as famílias, a realização do cadastro é interpretada como um bom sinal. "Eu esperava por isso há muitos anos", diz Lourival Duarte, que trabalha como catador de papel e mora num imóvel emprestado pelo irmão, que é dono de um dos depósitos de material reciclável existentes na vila. Ex-trabalhador rural no interior do estado, ele veio diretamente de Mariluz para Curitiba, há 12 anos. Quando chegou ainda tentou pagar aluguel, mas como não tinha como se manter acabou se mudando para a ocupação. Duarte acha que a proposta da Prefeitura de urbanizar o local "é boa demais".
João Maria Gonçalves, pai de cinco filhos, é dono de outro depósito, onde mantém 10 famílias que trabalham catando papel nas ruas. Depois, ele revende o material para intermediários e diz que com esta atividade consegue uma renda de dois salários mínimos mensais. Ele também ficou animado com a realização do cadastro e a notícia da intervenção na área. "Esse projeto é importante para nós, gente sem estudo, porque melhora a vida de todos", diz Gonçalves, que nunca freqüentou escola e está, desde o ano passado, matriculado, junto com a mulher, Lisandra, num curso noturno de alfabetização.
Roberto Carlos de Jesus, 27 anos, é um dos trabalhadores que moram "de favor" em um depósito. Ganha em torno de R$ 150,00 por mês. Sem família, ele conta que "veio da roça" e trabalhou na construção civil antes de se tornar catador de papel. Perdeu os documentos e a perspectiva de melhorar de vida. Ao ser entrevistado durante o cadastro, Roberto se mostrava entre confuso e incrédulo com a notícia da urbanização. "Gosto daqui. Tenho amigos e espero poder continuar no mesmo lugar. Se melhorar as condições, vai ser ótimo", disse ele.
Mais confiante, Senhorinha Carneiro Rodrigues, mãe de cinco filhos, está animada com a proposta de urbanização da Vila. "Sempre sonhei em ter o meu terreno e a minha casa", conta. Ela e o marido moravam em outra ocupação, na Vila União, no Uberaba, e foram para a Vila Savana depois que perderam a casa e todos os pertences num incêndio. Estão provisoriamente abrigados num barraco emprestado e não vêem a hora de mudar para um lugar melhor.
Projeto
O projeto de intervenção na Vila Savana faz parte de uma proposta mais ampla, que prevê a atuação em outras áreas – a Vila Lorena e o bolsão Audi/União. Os recursos para financiar as obras, de R$ 7,2 milhões, virão do governo federal (R$ 5,5 milhões) e do município (R$ 1,7 milhão). O financiamento é do Programa de Urbanização, Regularização e Integração de Assentamentos Precários e será liberado pela Caixa Econômica Federal.
A proposta da Prefeitura estabelece uma ação simultânea nas Vilas Savana e Lorena, com a regularização e obras de urbanização em parte das duas áreas e a relocação das famílias excedentes para um novo loteamento que será criado na mesma região (para que as famílias mantenham seus vínculos de trabalho).
