O Ministério da Justiça comunicou formalmente o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) somente ontem (9) sobre a existência de uma segunda conta bancária em Miami, do publicitário Duda Mendonça, marqueteiro da campanha de eleição presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002. A informação é do presidente do Coaf, Antônio Gustavo Rodrigues, que lamentou hoje (10), em depoimento à CPI dos Correios, a falta de acesso do Conselho a informações sobre movimentações financeiras no exterior de Duda Mendonça e do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. O Ministério da Justiça teria conhecimento dessa conta de Duda desde novembro de 2005.
"Eu acredito que seria interessante o órgão de inteligência ter acesso a esse tipo de informação. O que mata esse trabalho é a falta ou o excesso de informação", disse Antônio Gustavo, que chorou ao final de seu depoimento. Por solicitação do Ministério da Justiça, o Coaf enviou ontem para os Estados Unidos pedido de informações sobre uma segunda conta bancária de Duda. O pedido de informações sobre dados cadastrais e eventuais operações suspeitas foi encaminhado ao Financial Crimes Enforcement Network (Fincen), órgão vinculado ao Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, que equivale ao Coaf. "Na última segunda-feira, o Coaf recebeu um e-mail do Ministério da Justiça que queria ajuda para identificar uma segunda conta de Duda Mendonça no exterior. Nós mandamos o pedido para o Fincen", disse Antônio Gustavo.
Ele contou que tomou conhecimento informal de uma segunda conta bancária do publicitária na Flórida no final da tarde de sexta-feira (6). "Era entre 18h e 19h quando o Ministério da Justiça nos informou da conta no exterior", afirmou o presidente do Coaf. A matéria da revista ‘Veja’ sobre a segunda conta bancária de Duda nos Estados Unidos saiu no sábado. "O Ministério da Justiça está agindo de maneira diversionista. Só avisou o Coaf no final da tarde de sexta-feira quando a matéria da revista ‘Veja’ já estava pronta", denunciou o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP).
O presidente do Coaf informou ainda que o órgão pediu informações em 17 de agosto de 2005 aos Estados Unidos sobre a Dusseldorf, offshore de Duda Mendonça, com sede nas Bahamas e conta bancária em uma agência de Miami. "Mas até hoje não houve nenhuma resposta. Tem muito tempo que enviamos o requerimento e isso deveria ter sido cobrado", admitiu Antônio Gustavo. "Tenho tido contato com autoridades do Fincen e eles não têm conhecimento desses requerimentos", afirmou o relator adjunto da CPI dos Correios, Eduardo Paes (PSDB-RJ). Em sua avaliação, o Coaf não está se empenhando junto às autoridades norte-americanas.
Em agosto do ano passado, Duda Mendonça afirmou em depoimento à CPI dos Correios que recebeu R$ 10,5 milhões na conta Dusseldorf como parte do pagamento pela campanha das eleições de 2002 do PT. Além dos Estados Unidos, o Conselho também pediu informações aos governos das Bahamas, Panamá e Uruguai sobre movimentações financeiras no exterior de Duda Mendonça.
No depoimento à CPI dos Correios, o presidente do Coaf explicou que o órgão só atua quando recebe comunicação de casos suspeitos, que são feitas pelos bancos. "Estamos vendo um órgão que precisa ser fortalecido. Não tem poder de investigação, então não tem poder de ação. E ter um órgão sem poder de ação não adianta nada", afirmou o relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR).
Durante o depoimento à CPI, Antônio Gustavo voltou a informar que, em outubro de 2003 o Conselho avisou o Ministério Público Federal em São Paulo das movimentações atípicas nas contas da agência de publicidade SMP&B, de Marcos Valério Fernandes de Souza. Essa informação já havia sido dada a integrantes da CPI, em agosto de 2005, quando estiveram no Coaf. Em 2002, o Ministério Público Federal em São Paulo fez uma investigação sobre a SMP&B São Paulo Comunicações, que tem os mesmos sócios da SMP&B. Na época, o Coaf não detectou nenhuma movimentação suspeita nas contas da empresa. A partir de meados de 2003, o Banco Central baixou uma norma que obriga os bancos a informarem ao Coaf os saques em dinheiro acima de R$ 100 mil. Em outubro de 2003, o Coaf avisou o Ministério Público em São Paulo sobre a volumosa movimentação no boca do caixa da SMP&B.
