O clima entre fazendeiros e sem-terra que ocupam a Fazenda Caatinga, no município de São Francisco, no norte de Minas Gerais ficou tenso depois que o Sindicato Nacional dos Produtores Rurais (Sinapro) cobrou da Polícia Militar o cumprimento do mandado de reintegração de posse. O pedido foi expedido na semana passada pelo juiz da Comarca, Richardson Brant Xavier. A fazenda foi invadida no dia 4 de dezembro por cerca de 200 famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST).
A Polícia Militar de Minas Gerais (PM-MG), até o final da tarde de hoje, garantia que a situação era tranqüila na região, mas a liderança dos sem-terra prometeu reagir a qualquer tentativa de desocupação por parte dos fazendeiros.
Em um comunicado divulgado hoje, o sindicato afirmava que “há um forte prenúncio de um confronto grave entre os fazendeiros da região e o MST, caso as autoridades policiais locais não cumpram de imediato a ordem judicial”.
O coordenador nacional do MST na região do Distrito Federal e entorno, Cledson Mendes, confirmou que o clima ficou tenso entre fazendeiros e trabalhadores rurais. “Se eles quiserem nos despejar, nós estamos preparados para enfrentar. Vai morrer gente dos dois lados, mas sem dúvida vai morrer mais do lado deles”, disse Mendes.
Armas
Segundo ele, aproximadamente 170 famílias permanecem acampadas na propriedade. “Se for preciso, enchemos mais cinco ou seis ônibus.” O coordenador do MST negou, no entanto, que os sem-terra acampados na Fazenda Caatinga estejam portando armas de fogo, como acusam os fazendeiros e policiais militares de São Francisco.
De acordo com opresidente do Sinapro, Narciso Rocha, a propriedade está parcialmente destruída, a sede foi queimada e dezenas de cabeças de gado já foram abatidas. Rocha acusou o governador Itamar Franco (sem partido) de impedir a PM mineira de “tomar a decisão que deveria tomar”.
Segundo o Instituto da Terra de Minas Gerais (Iter-MG), o governo estadual determinou que a PM deverá agir somente após o julgamento da liminar de reintegração de posse pela Vara Agrária, sediada em Belo Horizonte.
“Esse sindicato está fazendo sensacionalismo barato. A situação está sob controle. Por parte da PM, nós queremos resolver o problema sem violência”, rebateu o major Fernando José de Oliveira Guimarães, assessor de comunicação organizacional da Terceira Região da Polícia Militar, em Montes Claros (MG).
Terra devoluta
A Fazenda Caatinga pertence à Pontal Empreendimentos Agropecuários e sofreu duas invasões na última semana. Cerca de 22 funcionários que estavam na propriedade foram expulsos pelos sem-terra.
Um levantamento feito há aproximadamente um mês pelo Iter revelou que a propriedade é “parcialmente” uma “terra devoluta”, possuindo 2.358 hectares registrados. “Trata-se de uma terra devoluta e a intenção do governo é transformá-la em assentamento”, assegura Cledson Mendes.