Enquanto aguardavam o debate final entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o candidato do PSDB Geraldo Alckmin, os correligionários do tucano mal conseguiam disfarçar o abatimento com as dificuldades de alterar a tendência de vitória do petista. Apesar dos comentários que duvidavam das pesquisas e que eleição só se decide na contagem dos votos, o clima entre tucanos e pefelitas era de desânimo. Afastado da campanha tucana no segundo turno, por causa da aliança de Alckmin com o ex-governador Anthony Garotinho, seu maior adversário, o prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), praticamente admitiu a derrota. Indagado se Lula seria reeleito, reconheceu: "A probabilidade maior é essa. Na pior das hipóteses (para Lula) são 15 pontos de diferença (nas pesquisas eleitorais)."
Mesmo entre os tucanos mais otimistas, o que se via era conformismo. "O que vier dessa eleição será acatado por mim. O período de luta está se encerrando", disse o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, candidato derrotado ao governo do Amazonas. Bem-humorado, Virgílio disse que Alckmin deveria partir para "o tudo ou nada" e brincou citando dois extremos: "Ou calça de veludo ou bumbum de fora.
Nos bastidores da campanha tucana, alguns assessores já não escondiam as desavenças com colegas. "Está tudo errado. Para ganhar, só se Deus quiser", desabafou um colaborador de Alckmin, ao chegar à TV Globo.
Na noite de hoje, poucos minutos antes do início do debate, os assessores não sabiam dizer o que Alckmin faria nesta véspera de eleição. Alguns falavam em um passeio pelo Saara, uma área de comércio popular no centro do Rio. Outros pensavam em uma caminhada na Barra da Tijuca, na zona oeste, bairro onde o tucano ficou hospedado.Um terceiro grupo defendia que Alckmin fosse ao Aterro do Flamengo, na zona sul. Outro flagrante da desarticulação tucana: o coordenador do programa de governo, João Carlos Meirelles, um dos mais próximos auxiliares de Alckmin, esperou por duas horas no aeroporto do Rio até que alguém chegasse para buscá-lo.
Apesar da espera, Meirelles chegou sorridente e confiante à TV Globo. Duvidou das pesquisas e elogiou o candidato. "Ele é um velho guerreiro, acostumado às batalhas. O debate não provoca virada, mas consolida uma trajetória. Como ele está bem, isso vai se consolidar", afirmou Meirelles.
Dois dos principais integrantes do comando da campanha tucana, o coordenador geral, senador Sérgio Guerra (PE) e o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), só chegaram ao estúdio da Globo às 22h45. Perderam todo o primeiro bloco do programa. O governador eleito da Bahia, Jaques Wagner, chegou ainda mais atrasado, às 23h10. Teve que esperar para entrar no intervalo antes do terceiro bloco. "Foi o tráfego aéreo", lamentou.
Governador reeleito de Minas Gerais, o tucano Aécio Neves procurou manifestar otimismo, reforçando a tese de que as pesquisas não refletem a realidade. "Vai ser uma surpresa se o resultado for próximo a esses indicadores que as pesquisas estão mostrando. Não houve fato que explicasse isso", afirmou o governador mineiro.
A falta de entusiasmo dos tucanos contrastava com a animação dos petistas convidados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Hoje o assunto é tudo, menos política", brincava, descontraído, o secretário de Comunicação do PT, Francisco Campos. Um importante integrante do governo Lula chegou a arriscar um placar final da contagem de votos: "trinta pontos de diferença" do presidente de vantagem sobre o tucano.
Outros petistas procuraram ser comedidos na comemoração antecipada. A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse que falar antecipadamente na vitória de Lula "seria muita pretensão" O coordenador da campanha pela reeleição, Marco Aurélio Garcia, não fugiu do tema mais espinhoso para o PT, a tentativa de compra de um dossiê contra o tucano José Serra. Ao comentar a descoberta de que uma integrante do PSDB de Pouso Alegre (MG) montou uma versão falsa que acusava o ex-assessor da campanha do PT de São Paulo, Hamilton Lacerda, de ter recebido dólares para pagar o conjunto de documentos, Garcia afirmou, irônico: "As Organizações Tabajara são maiores do que pensávamos.
O ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos tratou o tema com seriedade. De acordo com Bastos, houve crime de denunciação caluniosa. "É uma irresponsabilidade. Depois que jogam uma coisa dessas por aí, é difícil recuperar (a imagem de quem foi falsamente acusado)", protestou o ministro
Cada candidato teve direito a levar 44 convidados ao estúdio e 10 assessores com acesso ao camarim. Alckmin ficou no camarim número 5. Lula, no 3. O mediador William Bonner ocupou o número 10. Flores enfeitavam a sala de preparação dos candidatos, onde havia frutas, frios e pães, além de sucos e refrigerantes.
Lula e Alckmin chegaram e helicóptero à TV Globo. O tucano foi o primeiro a desembarcar, às 20h55. Vinte minutos depois, chegou o presidente, acompanhado da mulher, Dona Marisa. Ao entrar no estúdio, Alckmin foi direto cumprimentar os eleitores indecisos que fizeram perguntas nos três primeiros blocos. Os adversários se cumprimentaram da maneira cordial, sorridentes. Apesar das expectativas diferentes para o dia da eleição, ambos pareciam aliviados com o fim da disputa eleitoral, especialmente depois das tensões do segundo turno.
O debate mobilizou mais de 200 profissionais da TV Globo e um esquema ainda mais rígido de acesso às dependências da emissora foi montado, por causa da presença do presidente da República. Entre os convidados de Alckmin estavam o governador eleito de São Paulo, José Serra, e seu vice, Alberto Goldmann, que não perdeu a piada ao ver os indecisos no estúdio: "A Globo não selecionou nenhum (beneficiário do) Bolsa Família!
Do lado petista, estava o governo em peso: 14 ministros, além do vice-presidente, José Alencar. Também foram prestigiar Lula os presidentes da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B/SP), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB/AL). Estavam presentes ainda os governadores eleitos do Ceará, Cid Gomes e de Sergipe, Marcelo Déda.