Classe média

A classe média é ponto de equilíbrio social. Sempre que mais numerosa, evita maiores conflitos sociais ou os atenua, pois num País de diferenças tão brutais como o nosso são até necessárias as manifestações de descontentamento das camadas mais baixas da população. O governo tem se gabado e os números confirmam que nos últimos anos a classe de baixa renda teve uma sensível melhora de posição e que muitos de seus integrantes ingressaram na classe média. Não obstante seja a média a que mais forma a opinião pública, foi com forte apoio das classes menos favorecidas que o presidente Lula logrou uma folgada reeleição. Há analistas que consideram que tal feito foi obtido com a oferta direta de benefícios, como os bônus do Fome Zero e outros programas sociais.

Estudos atuais, entretanto, demonstram que o saldo da evolução da renda da classe média e da criação de empregos no primeiro mandato do governo Lula é amplamente negativo. Na América Latina, com exceção da Argentina, é no Brasil que a classe média mais teve diminuída sua participação no total da renda nos últimos anos. O fenômeno se acentuou neste governo, mas já vinha ocorrendo no de FHC. O empobrecimento da classe média conflita com o fato de que é exatamente essa parcela da população que mais paga impostos e mais consome. Aqui, entre os mais pobres, a renda e o emprego prosperaram.

Chega-se, numa análise primeira, à conclusão de que o benefício da melhora na situação das classes de menor renda e seu ingresso na classe média, um dos trunfos do governo, significa uma aproximação que é praticamente anulada. Numa conclusão mais crítica, chega-se a acreditar que uns ficaram menos pobres, mas houve nivelamento por baixo. Nos países socialistas ou de políticas socializantes, no afã de buscar a igualdade, muitas vezes consegue-se que todos fiquem mais pobres. Não logram fazer com que os ricos fiquem menos ricos e os pobres menos pobres, criando uma situação verdadeiramente justa. O resultado tem sido que todos ficam pobres, embora seja verdade que a miséria absoluta, com a qual convivemos há séculos, tende a desaparecer.

Considerando classe média quem ganha acima de três salários mínimos, ou seja, mais de R$ 1.050, o saldo é negativo de quase 2 milhões de empregos formais nos últimos seis anos, portanto neste governo e parte do anterior. A renda de quem conseguiu entrar no mercado de trabalho formal ganhando mais de 3 mínimos caiu 46%, descontada a inflação, em cotejo com o que era pago aos que foram demitidos.

Há aí uma pérfida rotação. São demitidos trabalhadores e admitidos outros em seu lugar, com salários mais baixos.

Já a posição dos mais pobres teve saldo positivo. Houve mais admitidos e menos demitidos de quase 6 milhões de novas vagas para quem ganha entre um e três mínimos, de 2001 a setembro de 2006. Esta notícia positiva confirma o que antes dissemos. Há rotação de mão-de-obra para dispensar quem ganha mais e admitir quem ganha menos. Também é positivo para quem ganha só um salário mínimo. Foram criadas, para estes, 2,2 milhões de vagas e a renda melhorou 124%.

Esses dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, do Ministério do Trabalho. Gilberto do Amaral, presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, informa que mais de 60% da carga de imposto de renda da pessoa física recai sobre a classe média. Outros 25%, sobre os mais ricos, e só 15% sobre os de baixa renda. Esses estudos fazem concluir que se é bom melhorar a situação da população de baixa renda, é péssimo piorar a da classe média, pois o que está acontecendo é nivelar por baixo. E nenhum país pode aspirar desenvolvimento econômico e social se caminhar para esse perfil de sociedade.

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